Patrícia Evelyn
Do Diário de S. Paulo
Após as obras, o prédio histórico vai abrigar um centro para atividades educacionais, fóruns e debates que valorizem a língua portuguesa
No Dia da Língua Nacional, São Paulo deu um passo decisivo para a proteção de dois patrimônios culturais: a Estação da Luz, na região central, e a Língua Portuguesa. O início oficial das obras de recuperação da fachada da estação, ontem, marca a primeira etapa do projeto “Estação Luz da Nossa Língua”, que na segunda fase prevê a criação de um centro de referência da Língua Portuguesa no prédio histórico.
Autoridades como o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e os secretários de Estado da Cultura, Cláudia Costin, e de Educação, Gabriel Chalita, prestigiaram o evento. Todo o trabalho de restauro da parte externa será concluído até janeiro de 2004, para a comemoração dos 450 anos de São Paulo.
A obra na fachada começa neste mês. Em seguida será a vez da torre do relógio e logo depois das paredes laterais. Os últimos detalhes do projeto para o interior do prédio, que abrigará o centro de referência, estão sendo finalizados.
Orçado em R$ 30 milhões, o projeto “Estação Luz da Nossa Língua” é uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Roberto Marinho, em parcerias com o Governo federal e a iniciativa privada, além de apoio da Prefeitura. A previsão é que fique pronto até o início de 2005.
Segundo o diretor-geral da Fundação Roberto Marinho, José Roberto Marinho, o espaço terá como característica o dinamismo. Serão desenvolvidas atividades educacionais, oficinas culturais, fóruns e debates dirigidos por instituições que buscam a valorização da Língua Portuguesa, além da capacitação de professores.
“A Estação da Luz vai ser o ponto de partida e de chegada de um trem cuja locomotiva é a língua que falamos. Nosso desafio é mobilizar toda a sociedade para que cada brasileiro tenha orgulho da nossa língua, a quinta mais falada do planeta”, disse Marinho.
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, acredita que a Estação da Luz voltará a ocupar o lugar que é seu por direito: o de importante marco cultural da cidade e do Brasil. Gil afirmou que o projeto é de fundamental importância para a identidade nacional e lembrou que o Brasil tem 80% das pessoas que falam a Língua Portuguesa no mundo. A Língua Portuguesa é a oficial para 200 milhões de pessoas. Para Cláudia Costin, o projeto possibilitará que os usuários da estação reflitam sobre a Língua Portuguesa e sintam-se motivados para ler.
Centro vai formar professores
O secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, afirmou que, com o projeto “Estação Luz da Nossa Língua”, a estação será o principal centro de formação dos professores da rede estadual para a Língua Portuguesa. “Teremos um tipo de capacitação que mostre, por exemplo, como a televisão conseguiu evoluir em tratar algumas obras clássicas em minissérie que acabaram sendo mais envolventes do que a própria obra clássica no primeiro momento”, disse.
Chalita ressaltou que a Rede Globo e a Fundação Roberto Marinho vão disponibilizar todo o material histórico de produção ligado à Língua Portuguesa, não apenas para ser aproveitado na capacitação de professores, mas também para atender pessoas interessadas em conhecê-la melhor.
Segundo o secretário, as oficinas para professores começarão assim que houver espaço adequado. “Acho que será um centro onde os professores poderão se abastecer e os alunos, conhecer de forma envolvente e apaixonante o que é a nossa língua.” Para ele, o caminho para levar o conhecimento ao aluno tem de ser mais sedutor, e um dos grandes desafios da educação é mostrar que é gostoso estudar português.
Construção teve material importado
Construída entre 1895 e 1901, a Estação da Luz surgiu como símbolo do poder do café. Projetada por engenheiros ingleses, a estação foi erguida com materiais importados e teve fundamental importância para o transporte de produtos até o Porto de Santos e na locomoção na Capital do estado.
De tijolos vermelhos, a construção possui cobertura metálica com uma parte em vidro que permite a entrada de luz natural. A torre do relógio é a marca registrada da estação. Após um incêndio, em 1946, foi construído mais um pavimento em uma das alas do edifício principal.
Atualmente, pela Estação da Luz passam cerca de 50 mil usuários por dia. No local há obras que vão possibilitar a integração entre as inhas do Metrô e da CPTM. Com isso, a expectativa é que 300 mil pessoas circulem diariamente pelo prédio.
