Combate à gravidez na adolescência

Folha de S. Paulo - Tendências/Debates - Quinta-feira, 30 de junho de 2005

qui, 30/06/2005 - 9h47 | Do Portal do Governo

Luiz Roberto Barradas Barata

Gravidez é sempre um tema delicado e preocupante quando envolve crianças e adolescentes. E o fato é que a vida sexual do brasileiro tem começado cada vez mais cedo em razão de causas diversas, mas, fundamentalmente, por causa da liberalização de hábitos e costumes, além de uma maior exposição dos jovens aos temas ligados à sexualidade.

O assunto é polêmico e pauta para infindáveis debates. Há, entretanto, uma convergência em torno das graves conseqüências que a gravidez não desejada pode trazer a uma adolescente e a seu futuro filho. Assim, medidas de inclusão social, informação e orientação adequada são os componentes que podem fazer toda a diferença para garantir um futuro promissor, com mais saúde para os nossos jovens.

Teses e discussões moralistas à parte, a realidade nua e crua exige pulso firme do poder público, no sentido de conscientizar adolescentes que iniciam sua vida sexual a adotar métodos anticoncepcionais desde a primeira relação, evitando a gravidez não planejada e as doenças sexualmente transmissíveis.

No Estado de São Paulo, um modelo inovador de atendimento integral à adolescente -que contempla os aspectos físico, psicológico e social- vem contribuindo para diminuir o número de casos de gravidez entre jovens. Balanço da Secretaria de Estado da Saúde mostrou que, em 2004, 106.737 adolescentes menores de 20 anos de idade engravidaram, o que representa uma redução de 28% em relação a 1998, quando o número de casos de gravidez na adolescência chegou a 148.019.

Os números vêm caindo ano após ano. Em 1999 houve 144.362 casos de gravidez entre jovens. No ano seguinte, foram 136.042. Em 2001, o total de casos foi reduzido para 123.714. Já em 2002 houve 116.368 e, em 2003, 108.945. Trata-se, sem dúvida, de um avanço importante, fruto do trabalho pioneiro iniciado pelo governo estadual em meados da década de 90.

As adolescentes grávidas em 2004 representaram 17% do total de partos no Estado. Em 2002, esse índice foi de 19,4% e, em 2003, de 17,6%. É importante ressaltar, ainda, que também houve queda no número de casos de gravidez entre meninas de dez a 14 anos. No ano passado, 3.229 garotas nessa faixa etária engravidaram, o que significa redução de 28,7% em relação a 1998. Apesar dos resultados alcançados, deve-se redobrar os esforços para controlar a nova ‘epidemia’ que ataca nossa juventude.

O novo modelo de assistência às adolescentes do Estado de São Paulo nasceu a partir dos resultados de uma pesquisa que revelou que quase 90% das jovens, de uma amostra de 2.500 pessoas, conheciam algum método anticoncepcional, mas, ainda assim, continuavam engravidando. Dessa forma, as campanhas informativas ajudavam, mas não garantiam, efetivamente, proteção.

Ficou evidente que, além da adequada informação, era necessário um trabalho de melhoria da auto-estima das jovens, uma vez que a insegurança e a falta de um projeto pessoal de vida se constituíam em fatores determinantes para a vulnerabilidade das adolescentes. A pesquisa também apontou que, quanto maior o número de anos na escola, menores as chances de a jovem engravidar.

Com base nos resultados da pesquisa, a Secretaria da Saúde de São Paulo montou, em 1996, um serviço gratuito de atendimento multiprofissional realizado por médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. Instalado na Casa do Adolescente, na capital, o serviço é focado na prevenção, proteção e redução de danos, acolhendo adolescentes que já tenham ou não iniciado sua vida sexual.

Além de programas específicos, destinados à redução de gravidez, a Casa do Adolescente está aberta aos jovens de dez a 20 anos incompletos e oferece outros serviços, como o projeto Oficina dos Sentimentos. Uma vez por semana, grupos de cerca de 40 jovens discutem com psicólogos, fisioterapeutas e pediatras o que é ser adolescente e quais os sentimentos comuns à faixa etária. Também há cursos de inglês e espanhol, aulas de dança, cursos de culinária e artesanato e terapias em grupo. Até 2006, a capital ganhará mais nove casas em bairros que ainda têm altos índices de gravidez na adolescência.

Outro serviço oferecido é o Disk-Adolescente -pelo telefone (11) 3819-2022-, que tira dúvidas sobre sexualidade, orientando e esclarecendo. Além disso, a secretaria promove regularmente cursos e palestras a profissionais de saúde dos municípios paulistas, visando multiplicar a bem sucedida experiência da Casa do Adolescente.

Essa verdadeira ‘rede de proteção’ e a adoção de uma política integrada de assistência vem propiciando resultados cada vez mais animadores, oferecendo aos jovens paulistas mais saúde e oportunidade.

Luiz Roberto Barradas Barata, 52, médico sanitarista, é secretário da Saúde do Estado de São Paulo.