Com projetos de educação, setor público alimenta vendas de PCs

Valor

qui, 21/05/2009 - 8h24 | Do Portal do Governo

As indústrias de automóveis e de construção civil não são as únicas que têm enxergado no setor público seu melhor aliado em momentos de crise. Nos últimos meses, o governo – em suas três esferas – tem sido um dos principais motores do mercado de computadores. A demanda vem de toda parte, mas é a área de educação, entre todos os setores da máquina pública, que mais estimula os negócios dos fabricantes de PCs.

A pedido do Valor, a empresa de pesquisas IT Data fez um levantamento das principais iniciativas em andamento no país. Os resultados indicam que neste ano mais de 300 mil laptops serão comprados por professores da rede pública de ensino. É o equivalente a quase 10% do total de vendas de portáteis projetado para 2009. O curioso é que, um ano atrás, esse mercado praticamente não existia.

São Paulo e Pernambuco estão entre os Estados que têm puxado esse processo de “inclusão digital” do professor, junto com o Distrito Federal. Com projetos diferentes, os governos locais têm feito a ligação direta entre o fabricante de PCs e o consumidor final, driblando as cadeias de varejo. O resultado é a queda no custo do equipamento para o professor, o aumento na rentabilidade dos fabricantes e a garantia de pagamento do produto, já que a cobrança das máquinas costuma ser debitada no holerite. “A margem de lucro de uma rede varejista fica em torno de 20% a 25%, enquanto o fabricante fica com no máximo 5%”, comenta Ivair Rodrigues, analista da IT Data. “A possibilidade de vender diretamente para o consumidor é o melhor dos mundos para a indústria.”

Em março, o governo de São Paulo fechou acordo com a Positivo Informática, a Microsoft e a Caixa Econômica Federal para lançar o “Laptop do Professor”. O programa, que recebeu inscrições de 80 mil professores, deverá movimentar cerca de R$ 139 milhões. Com custo fixo de R$ 1.738, o laptop pode ter seu preço dividido em até 24 parcelas de R$ 72, sem juros. Em apenas dois meses, segundo a Secretaria da Educação do Estado, foram entregues 24 mil equipamentos.

No Distrito Federal, o acordo também foi firmado com a Positivo e a Microsoft, além do Banco de Brasília . O DF recebeu inscrições de interessados até o mês passado. Dos 28 mil professores da rede pública, 22 mil compraram seus portáteis. O preço de cada equipamento foi de R$ 1.426, com metade do valor bancado pelo governo. O professor pode pagar sua parte em 24 parcelas fixas de R$ 38,41.

Izalci Lucas, secretário de Ciência e Tecnologia do DF, afirma que o interesse fez com que o governo decidisse reabrir as inscrições, o que deve ocorrer neste mês. “Agora, nosso plano é ir além dos professores”, diz ele. Até o início de junho, o DF vai lançar o programa “Servidor Informatizado”, voltado aos seus 120 mil funcionários públicos. A previsão é de que a adesão à iniciativa seja de 80 mil pessoas. “O governo não vai financiar metade do projeto, mas as demais condições serão mantidas.”

Em geral, os projetos costumam ir além da simples venda de equipamentos. O computador é acompanhado de um pacote de software, que inclui material para capacitação dos professores e conteúdo pedagógico para uso em sala de aula. Em Pernambuco, a iniciativa envolveu a participação da indústria local de PCs. Os 26,3 mil professores da rede estadual e os servidores da Secretaria de Educação receberam do governo um bônus de R$ 2,3 mil para usar na compra de notebooks. De acordo com o secretário de Educação, Danilo Cabral, o programa custou R$ 60 milhões aos cofres estaduais e foi aberto a qualquer fabricante interessado, desde que atendidas as configurações mínimas exigidas. Os notebooks são equipados com dicionário, enciclopédia e um software pedagógico. Participaram empresas de todo o país, mas as grandes vencedoras foram companhias locais, como N3 e ZMax. “Criou-se uma concorrência sadia entre as empresas, que ofereceram até mais recursos do que pedimos”, diz Cabral.

“Os Estados esperam que essas iniciativas causem um impacto perceptível sobre a baixa qualidade de ensino que vemos hoje”, diz Álvaro Leal, analista da IT Data. “Por isso, a tendência é de que esses projetos se espalhem por todo o país.”

É o caso do Rio Grande do Sul, que neste momento trabalha em um projeto para subsidiar a venda de PCs aos professores estaduais. “O programa não está finalizado, mas a ideia é que o governo arque com o pagamento dos juros que incidem sobre as vendas parceladas”, diz Ervino Deon, diretor-geral da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul.

Mercado pela frente não falta. O Brasil tem cerca de 2,3 milhões de professores na rede pública de ensino, distribuídos em 157 mil escolas. Essas iniciativas podem ser um alento para os fabricantes de PCs, cujas vendas despencaram com a crise econômica. No primeiro trimestre deste ano, foram vendidos 2,2 milhões de computadores no país, 12% abaixo do volume registrado no mesmo período de 2008, informa a Abinee, associação da indústria de eletroeletrônicos.

Segundo Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, esses projetos têm ajudado a compensar a retração no varejo. Com a ajuda do setor público, a empresa retomou, nesta semana, o terceiro turno de produção na fábrica de Curitiba, que havia sido interrompido. “Estou mais otimista que no fim de 2008. O mercado não está como antes da crise, mas já apresenta sinais de melhora”, diz.

No primeiro trimestre, a Positivo vendeu 323,1 mil PCs, número estável em relação ao início de 2008. Mas enquanto as vendas ao varejo recuaram 6,3%, governos e clientes empresariais aumentaram suas compras em 5,7% e 65,8%, respectivamente. Os negócios com o setor público atingiram R$ 80,3 milhões contra R$ 75 milhões no mesmo intervalo do ano passado.

O fôlego governamental também mexeu com os planos da Megaware. “Não entramos na primeira fase de compras públicas porque não tínhamos um produto pronto para concorrer”, diz Germano Couy, diretor comercial. “Mas vamos brigar nesse mercado no segundo semestre.”