Com as mãos na massa

O Globo - Rio de Janeiro - Domingo, 14 de novembro de 2004

qua, 17/11/2004 - 9h08 | Do Portal do Governo

Lu Alckmin, a primeira-dama de São Paulo, dedica seus dias ao seu projeto social chamado Padaria Artesanal e a transformar seus diários num livro

Jorge Bastos Moreno, de São Paulo

NEM JACQUELINE KENNEDY E MUITO MENOS Lady Di. A primeira-dama de São Paulo, Lu Alckmin está mais para Maria Lúcia mesmo, nascida em São Paulo, mas criada num sítio em Pindamonhangaba, entre bichos e plantas, e que voltou à capital sem perder a pureza de uma moça típica do interior.

Semelhanças? Com a primeira, na beleza e na elegância. De Lady Di, a solidariedade e a ação social engajada pelos necessitados. Aos inacreditáveis 53 anos de idade, há três meses Maria Lúcia Alckmin experimenta pela primeira vez a condição de avó. Isabela, sua primeira neta, mesmo sem entender direito, já começa a sentir que, mais que avó, ganhou uma companheira para travessuras incríveis que a maioria dos adultos custa a acreditar, como por exemplo, a de fazer Toya e Zé Carioca montarem no lombo de Tito e saírem cavalgando pela ala residencial do Palácio dos Bandeirantes.

Toya e Zé Carioca formam o casal de papagaios australianos que praticamente mora no pequeno gabinete de trabalho da primeira-dama do palácio. E Tito é um dócil e tímido pitbull de estimação, que morre de medo de Zé Carioca. Não é incrível? É como se o temível ministro José Dirceu tivesse medo, por exemplo, de tucanos. É difícil para qualquer repórter manter a calma e a concentração ao ouvir Lu Alckmin detalhar seus programas de ação social com um pitbull ora querendo ler suas anotações ora lambendo-lhe os sapatos. O alívio vem quando a primeira-dama põe um miolo de pão nas palmas da mão para atrair Tito e o cão se dirige ao colo de sua dona. E Lu dá comida na boca do animal!

A primeira-dama se entusiasma tanto ao falar do programa “Padaria artesanal” que nem repara que o alimento acabou e que o pitbull está fazendo seus dedos de pirulitos. Tão simples quanto seu jeito de ser é o seu programa de padaria artesanal: uma equipe da secretaria de Agricultura do estado capacita pessoas cadastradas pelas comunidades de bairros. Depois essas pessoas recebem um kit (um forno, uma batedeira, um liquidificador, uma balança, umas assadeiras e um botijão de gás) para fabricarem o pão. O governo do estado não gasta um tostão: o kit, no valor de R$700, é doado por empresários. O Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, presidido pela primeira-dama, não recebe doação em dinheiro.

O doador é informado a quem foi destinado o kit e é até convidado a, se quiser, visitar a padaria. E o programa tem efeito multiplicador, pois as pessoas que são treinadas pelo estado passam a ser também treinadoras. O modelo, estendido a todos os municípios de São Paulo, já está sendo implantado em outros estados brasileiros cujas primeiras-damas passaram a se inspirar no exemplo da colega de São Paulo. Lu Alckmin conta que se inspirou na própria mãe, Renata, já falecida, que costumava fazer esse trabalho comunitário na região onde moravam.

Desde menina, Lu tinha mania de registrar sua vida em diários que acabaram se extraviando. Desde que passou a fazer esse trabalho comunitário ela retomou a mania dos diários e vem anotando tudo em seus cadernos. São ao todo nove volumes que estão sendo transformados em livro a ser lançado no início do ano. Além das experiências com as comunidades carentes, retratando o dia-a-dia da luta das mulheres da periferia de São Paulo, Lu falará um pouco de sua vida dedicada a esse trabalho.

Diariamente, Lu Alckmin atravessa a cidade, visitando bairros e favelas da periferia de São Paulo, onde é recebida com festas. Sempre elegante, seu guarda-roupa é abastecido por grifes famosas e não raro alguns itens são comprados na Daslu, onde sua filha Sofia trabalha.

— Meu estilo é o clássico — afirma.

Seus hábitos são simples. Segue o marido na cultura naturalista, tanto que são chamados de “o casal zen”. Assistem a missas aos domingos, freqüentam teatros e cinemas. Assim como o marido, ela também se declara romântica. Gosta de Roberto Carlos, Gal Gosta e Ray Charles. Emocionou-se no “Último samurai” e adorou “Lisbela e o prisioneiro”. Viu a última peça de Paulo Autran e sentiu vontade depois de “levar aquele bom velhinho para casa”.

A primeira-dama separa totalmente seu trabalho social da atividade política, até porque tem como parceiros em suas padarias prefeitos de todos os partidos, principalmente do PT. Admira tanto alguns ministros do governo Lula, como Mares Guia, do Turismo, quanto tucanos históricos como Fernando Henrique, Tasso Jereissati, Franco Montoro, e até mesmo o falecido Ulysses Guimarães, do PMDB. Mas suas inspirações são mesmo Lila e Mário Covas.

Não gosta de especular o futuro político do marido, alegando que a missão dele é governar São Paulo, pois para isso foi eleito.