Colombiana ISA compra CTEEP com oferta de R$ 1,19 bilhão

O Estado de São Paulo - Quinta-feira, dia 29 de junho de 2006

qui, 29/06/2006 - 11h20 | Do Portal do Governo

Empresa paga 57,69% acima do preço mínimo para entrar no mercado brasileiro e promete mais investimentos

Teresa Navarro

Depois de vários adiamentos no cronograma de privatização, a Companhia de Transmissão Paulista (CTEEP), controlada pelo governo paulista, foi vendida ontem à colombiana Interconexión Eléctrica, ISA, por R$ 1,19 bilhão, com ágio de 57,69% sobre o preço mínimo. No total, o governo deve receber R$ 1,4 bilhão, incluindo a oferta de ações aos funcionários, de R$ 215 milhões. A ISA passa a ter 50,1% do capital total da CTEEP.

Apenas duas empresas fizeram lances em envelope fechado. Além da ISA, a Terna Participações, do grupo italiano Terna, ofereceu R$ 1,05 bilhão. Outras quatro habilitadas – CPFL Energia, Alusa, Brascan e Pactual Transmissão – não fizeram proposta. No dia anterior, CPFL e Brascan chegaram a entrar com ação judicial na tentativa de suspender o leilão.

Desde sexta-feira, alguns investidores vinham fazendo pressão para que o governo do Estado adiasse o leilão, em razão de incertezas causadas por várias ações judiciais, em especial uma suposta dívida de R$ 6 bilhões originada da Paulipetro, empresa criada pelo ex-governador Paulo Maluf para prospectar petróleo em São Paulo, cuja operação teria resultado em prejuízo.

O secretário de Energia e Saneamento do Estado, Mauro Arce, disse não ter se surpreendido com a ausência de lances de empresas que se declararam interessadas na CTEEP, como a CPFL. “Todos os seis concorrentes habilitados estavam presentes, o que significa que tinham interesse, mas esperavam fazer um lance próximo do preço mínimo e perceberam que não conseguiriam ganhar dessa forma”, diz.

As incertezas causadas pelas ações judiciais não abalaram a ISA, que demonstrou determinação de entrar no setor de transmissão no Brasil. Com sede na Colômbia, a empresa está presente no Peru, na Bolívia, no Equador e na Venezuela e quer aumentar sua participação na América do Sul, tendo no Brasil um mercado estratégico. “Pagamos o preço justo pela CTEEP e fomos agressivos porque acreditamos no potencial do mercado brasileiro de energia”, disse Cezar Ramirez, gerente de Estratégia Corporativa da ISA.

Suas contas são simples: o Brasil precisa de mais 20 mil quilômetros de linhas de transmissão até 2012 e essa será uma oportunidade enorme para empresas do setor. Especializada em transmissão, a ISA está atenta às janelas que se abrirem e garantiu que participará do leilão de trechos novos de transmissão, a ser realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) neste ano.

Também está atenta a grandes projetos de geração, que vão demandar linhas de transmissão, como as duas hidrelétricas a serem construídas no Rio Madeira. O empreendimento exigirá uma extensa linha para levar energia até o Sudeste.

Ainda sem sede no Brasil, a ISA pretende rapidamente montar uma estrutura local e escolher um executivo brasileiro para comandar a CTEEP. Com o tempo, todas as atividades no Brasil ficarão subordinadas a uma holding, a ISA Brasil. Mas, por enquanto, a CTEEP vai se reportar à ISA na Colômbia. A empresa tem como acionista principal o governo colombiano, com 56% das ações. Outros 28% estão pulverizados em Bolsa e 12% pertencem à Empresas Públicas de Medellín (EPM).

Para o governo de São Paulo, a privatização da CTEEP representa o início da reestruturação da dívida de quase R$ 10 bilhões da terceira maior geradora do Brasil, a Cesp. Todo o dinheiro obtido no leilão será usado para capitalizar a Cesp.

O Estado prepara também uma oferta de ações ao mercado de cerca de R$ 2 bilhões e uma emissão de debêntures não conversíveis em ações no mesmo valor. Somando tudo, são mais de R$ 5 bilhões em dinheiro novo que entrará na geradora estatal.

“Estávamos sempre preocupados em pagar dívidas vencendo em até três anos; com a capitalização, a empresa poderá operar com geração de caixa própria”, afirma Arce. Com a venda da CTEEP, também fica quase concluído o programa de privatização paulista no setor. Segundo Arce, neste ano o foco será a reestruturação da dívida da Cesp.