Cientistas brasileiros criam novo tomógrafo

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 18 de abril de 2008

sex, 18/04/2008 - 11h36 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Um projeto de pesquisa nacional reduz em 36% a taxa de mortalidade de pacientes submetidos a respiração artificial, a um custo 96% inferior. O tomógrafo por impedância elétrica – que monitora em tempo real a condição dos pulmões – deve chegar ao mercado até o fim do próximo ano, custando de R$ 40 mil a R$ 60 mil. Um tomógrafo convencional não sai por menos de US$ 1 milhão. Protótipos já são utilizados no Instituto do Coração (Incor) em São Paulo e no ambulatório do Hospital das Clínicas (HC).

Marcelo Amato, pneumologista do HC, iniciou um grupo de pesquisa multidisciplinar que reuniu profissionais da Faculdade de Ciências Médicas e engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Nos anos 90, ao tratar vítimas graves de leptospirose encaminhadas à UTI com hemorragia nos pulmões, Amato percebeu que uma manobra com o respirador artificial – ajustes na pressão e no volume do ar – estancava a hemorragia. A taxa de mortalidade das pessoas tratadas com o aparelho caiu de 71% para 39%. A técnica foi batizada de “recrutamento de alvéolos” e foi tema de artigo na revista The New England Journal of Medicine.

Mas restava um desafio. Cada pulmão doente exige uma pressão e um volume específicos do respirador artificial para se restabelecer. Valores incorretos nessas variáveis poderiam tornar a técnica inútil ou perigosa. “Precisávamos ver o que acontecia”, diz Amato.

A utilização de um tomógrafo convencional era inviável. A solução surgiu durante visita à Universidade Erasmus de Roterdã (Holanda), em 1997. Lá, Amato encontrou um tomógrafo rudimentar desenvolvido pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra. O aparelho poderia ficar ao lado do leito e utilizava sinais elétricos inofensivos em vez de raios X, mas não produzia imagens, só gráficos imprecisos. Engenheiros pesquisavam a técnica para monitorar bolhas de ar em dutos de líquidos desde a década de 70. O grupo de Sheffield começou a utilizá-la na medicina. Os dados coletados por dezesseis eletrodos conectados ao tórax eram interpretados por um software.

Quando voltou ao Brasil, em 1998, o médico passou a trabalhar com Raul Gonzalez, do Laboratório de Mecânica dos Fluidos Aplicada à Engenharia Ambiental e Biomédica, da Poli. A empresa Dixtal interessou-se pelo projeto e, em parceria firmada em 2005 com a Fundação Faculdade de Medicina e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), desenvolveu os primeiros protótipos.