Ciência limitou visão cristã da vida, diz papa

Em livro lançado ontem, ele afirma que evolução não foi totalmente comprovada

qui, 12/04/2007 - 12h12 | Do Portal do Governo

De O Estado de S.Paulo

O papa Bento XVI, em suas primeiras reflexões sobre a Teoria da Evolução publicadas desde que assumiu o cargo, em abril de 2005, afirmou que a ciência limitou a forma cristã de entender a vida e que os fiéis deveriam optar por uma abordagem mais ampla sobre o tema.

Ele também acredita que a teoria de Darwin não é completamente comprovada porque mutações de milhares de anos não podem ser reproduzidas em laboratório.

No entanto, Bento XVI não dá nenhum apoio ao discurso criacionista ou do design inteligente. Esses argumentos, defendidos em sua maioria por grupos conservadores para explicar a origem da vida e rechaçados por cientistas, são alvo de polêmica nos Estados Unidos desde que algumas escolas começaram a inserir as teorias em seus currículos.

As idéias de Bento XVI foram publicadas ontem na Alemanha, no livro Schoepfung und Evolution (Criação e Evolução), no qual o pontífice fala sobre o progresso científico. “A ciência abriu grandes dimensões de conhecimento (…), o que nos trouxe novos entendimentos. Mas seus resultados trazem novas questões, que estão além de normas sistemáticas e que não podem ser respondidas por elas”, afirmou o papa, ex-professor de Teologia, em um seminário a portas fechadas para seus antigos alunos em setembro do ano passado. A reunião está registrada no livro.

“O tema pede uma dimensão de conhecimento que nós perdemos”, diz Bento XVI, acrescentando que o debate sobre a evolução é a discussão sobre “as questões fundamentais da filosofia, que são de onde vem e para onde vai o homem”.

ESCLARECIMENTO

Especulações sobre o ponto de vista de Bento XVI sobre o tema aumentaram desde que um antigo aluno e assessor, o cardeal de Viena Christoph Schoenborn, publicou um artigo no qual dá a entender que a Igreja estaria alinhada com defensores do design inteligente.

Essa teoria argumenta que formas de vida são demasiado complexas para terem sido resultado de um processo de evolução, como propôs Charles Darwin em seu livro A Origem das Espécies. A tese sustenta que haveria uma inteligência superior que guiou esses processos, em nome de Deus.

Porém, o papa defende em seu livro que Deus criou a vida por meio da evolução, e que religião e ciência não devem se enfrentar por esse motivo.