Cidadania e esperança por meio da tela

O Estado de S. Paulo - 10/5/2002

sex, 10/05/2002 - 10h41 | Do Portal do Governo

Grupos dão dicas para o vestibular e ajudam de deficientes a jovens infratores da Febem

A Internet ajudou a transformar a vida do garoto Tharcizio Santa Rita Franco, de 11 anos. Sem nenhum contato anterior com computadores, ele se converteu em um monitor-auxiliar voluntário do Infocentro São Luís, na zona sul. ‘Muitas vezes, Tharcizio me ajuda a resolver pequenos problemas, como encontrar sites de jogos’, diz a monitora Francinete Quintos de Oliveira.

O desempenho escolar do menino, segundo a mãe, a funcionária pública Maria da Luz, melhorou bastante depois que passou a dedicar-se a estudos na rede. ‘Já fiz pesquisas sobre dengue, doenças de mulheres e criei três endereços eletrônicos’, afirma o garoto, que vive em um conjunto da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) nas proximidades do infocentro. ‘Minha única preocupação é que ele não quer mais sair de lá e chega a ficar sem almoço’, diz. O garoto só deixa o espaço para ir à escola.

Anteriormente, Tharcizo era viciado em televisão. O seu sonho, agora, é ter um computador em casa e criar um portal – página que dá acesso a outros endereços eletrônicos e traz discussões sobre determinado tema – com assuntos de seu interesse.

Ainda no São Luís, 20 jovens estudantes se preparam para os disputados vestibulares da Universidade de São Paulo (USP) com recursos da Internet.

‘Nesta semana, estamos estudando literatura. Na próxima, será a vez de história’, afirma a monitora Francinete. Professores voluntários, freqüentadores do infocentro, esclarecem dúvidas dos alunos, que dificilmente teriam condições de pagar por um cursinho.

Capacitação – No centro de informática da Associação dos Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), na região central, a luta é para capacitar cegos. Priscila dos Santos Santana, de 19 anos, por exemplo, atravessa a cidade para aprender a lidar com os computadores. Moradora de Santo Amaro, na zona sul, já fez cursos de digitação, ambiente Windows, Internet (com destaque para controle de formas de acesso à web e mecanismos para trabalhar em rede) e HTML (linguagem específica para a criação de home pages na rede mundial de computadores). ‘Aprendi bastante. Anteriormente, não sabia absolutamente nada sobre as máquinas. Agora, estou preparada para trabalhar em qualquer área nas empresas.’

No Infocentro Jova Rural, dentro do Centro de Integração da Cidadania (CIC) do Jaçanã, na zona norte, os monitores Jefferson Morais e Ana Paula Lopes trabalham para ajudar a garantir a cidadania de jovens da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) em liberdade assistida. Aos sábados, eles devem passar a ter, em breve, um atendimento especial por meio de programas do governo do Estado.

Entre as iniciativas, prevê-se uma série de mini-cursos. Os jovens ainda poderão participar da edição de um jornal comunitário sobre as atividades do centro e freqüentar uma gibiteca, que se encontra em fase de instalação.

Já na unidade de Vila Progresso, em Itaquera, de acordo com a monitora Terezinha Vaz da Silva, pelo menos cinco pessoas conseguiram emprego utilizando a estrutura da rede nos sites específicos. ‘Um rapaz que freqüentava o infocentro aprendeu a fazer currículos e colocar na rede. Depois, ensinou para os outros’, comenta.

Experiência – De acordo com o secretário do Governo, a quem é subordinado o Acessa São Paulo, Dalmo Nogueira Filho, a idéia dos infocentros nasceu da junção de uma experiência com Internet na zona rural da Costa Rica com a proposta de grandes centros comunitários na Espanha. ‘Quando colocamos praticamente todos os serviços do Estado na rede, percebemos que de nada adiantaria, se a população não tivesse acesso.

Os infocentros vieram preencher essa lacuna.’ O acordo de instalação dos infocentros com as entidades comunitárias prevê que a associação cederá uma sala e o Estado entrará com computadores e monitores, além de adaptar o espaço.

Moacir Assunção