Choque cultural no Interior

ValeParaibano - São José dos Campos - Quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

qui, 30/12/2004 - 9h49 | Do Portal do Governo

OPINIÃO

Claudia Costin (*)

Boa parte dos 645 municípios do interior de São Paulo passa direta ou indiretamente por uma transformação cultural que deve trazer a médio e longo prazos uma nova realidade em relação à preservação e à difusão de suas manifestações artísticas e folclóricas. A partir de um interesse pessoal do governador Geraldo Alckmin, a Secretaria de Estado da Cultura tem investido cada vez mais em uma frente ampla de projetos para levar diversão e conhecimento a todas as regiões das mais diversas formas.

A meta é democratizar a cultura, inclusive com prioridade para as 67 localidades mais pobres. É o que o governador define como ‘choque cultural’, com o propósito de despertar o interesse das pessoas por esse tipo de atividade. Como conseqüência, essas pessoas não encontram somente entretenimento e lazer, mas poderão se capacitar profissionalmente e até mesmo viver com mais qualidade e mais bem informadas. Ao mesmo tempo, esperamos romper com a tradição de que as artes se limitam apenas à capital do estado.

Nada menos que uma dezena dos projetos estão voltados para as cidades do interior, em diversos gêneros de artes. Destacam-se: São Paulo: Estado de Leitores, Todos os Cantos, Museu Vivo, Projeto Guri, Projeto Ademar Guerra, Pró-bandas e Pró-fanfarras, entre outras iniciativas pontuais. Em alguns casos, boas idéias superaram os poucos recursos e se tornaram possíveis graças às parcerias que firmamos com a iniciativa privada e à mobilização da comunidade. Acreditamos que o jovem que não tem oferta de cultura só recebe o que os meios de comunicação de massa oferecem.

O projeto Todos os Cantos se propõe a mudar com cultura os municípios com menor índice de desenvolvimento humano medido pelo IDH e pelo IPRS Índice Paulista de Responsabilidade Social. Em cada um deles estão sendo oferecidas atrações nas áreas de música, teatro e cinema, além de um reforço às bibliotecas locais, com doação de 300 livros para cada uma. Estão sendo investidos R$ 730 mil, dos quais 40% vêm de patrocínio do Banco Santander.

O teatro é uma das apostas. O Projeto Ademar Guerra -que teve uma mostra em abril com grupos amadores de bairros carentes da região de Araçatuba e São José do Rio Preto- ganhou fôlego como parte da política cultural que prevê a formação de grupos e platéias e o estímulo à produção e à circulação de espetáculos por todo o estado. Já foram atendidos mais de 200 grupos amadores em 117 cidades do interior e da grande São Paulo.

‘São Paulo: Um Estado de Leitores’ é uma série de ações reunidas numa só marca. Seu principal propósito é desenvolver o hábito da leitura por prazer. Para isso, a meta é fazer com que todos os municípios tenham bibliotecas. Em abril do ano passado, quando teve início, o déficit era de 84 cidades. Até dezembro, esse número foi praticamente zerado –56 foram inauguradas e as outras 28 aguardam apenas agendamento com as prefeituras. Tudo feito por meio de adoção das cidades pela iniciativa privada e parceria com as prefeituras, independente dos partido político que governa cada município.

Muitas vezes, o certo não é inventar um projeto novo, mas trabalhar os que já existem, de uma outra forma. Foi o que aconteceu com o Revelando São Paulo, que ganhou edições no Vale da Paraíba e no Vale da Ribeira. O evento reuniu este ano um total de 400 mil pessoas. O projeto foi criado no cone leste para representar a cultura de tradições sustentada pelo tropeirismo em atividades de música, dança, religiosidade e outras manifestações do Vale.

O raciocínio da nossa política cultural está centrado no conceito de política pública, focada no cidadão e não no artista. A finalidade da ação do Estado na cultura é estendê-la aos 38 milhões de habitantes de São Paulo. Assim, procuramos privilegiar três elementos importantes de ação: a democratização do acesso aos bens e à produção cultural; gestão responsável dos recursos a serem aplicados; e, por último, a nossa rica diversidade artística, não deixando ninguém de fora.

(*) Claudia Costin é secretária de Estado da Cultura de São Paulo