China dinamiza projetos na área de transportes

Gazeta Mercantil - Terça-feira, 1º de junho de 2004

ter, 01/06/2004 - 9h32 | Do Portal do Governo

Viagem de Alckmin recoloca em pauta os principais planos do governo paulista em infra-estrutura

Marcelo Moreira

A excursão do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), à China, acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, era o que faltava para dinamizar os projetos ambiciosos que o estado tem para a área de transportes. Mesmo antes da viagem do governador, era nítido o alvoroço de seus principais assessores a respeito de novos projetos (e projetos nem tão novos assim) saindo do forno. Efeitos benéficos das PPP (Parcerias Público-Privadas), cujo conceito básico já foi aprovado pela Assembléia Legislativa?

A expansão do porto de Santos, a construção do ramo Sul do Ferroanel (melhorando o escoamento de cargas para o porto), a finalização da Asa Sul do Rodoanel e a execução das avenidas perimetrais foram os temas dominantes da comitiva paulista em visita a Pequim e Xangai.

Alckmin deixou clara sua disposição em trabalhar em sintonia com Brasília para atrair investimentos chineses na infra-estrutura para beneficiar o escoamento de carga pelo Porto de Santos, considerado um tema prioritário em sua administração, mas cujos projetos de ampliação ainda não foram implementados. ‘‘Embora a responsabilidade (da expansão do porto) seja da Codesp, nós podemos ajudar a buscar parceiros para investir. O objetivo é trabalhar junto, integrar os esforços com o setor privado para podermos, rapidamente, fazer os investimentos’’, explicou Alckmin.

O sonho do primeiro escalão do governo paulista é garantir de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões em investimentos chineses até 2008 ou 2010. Alguns mais otimistas acreditam em até US$ 5 bilhões, embora seja essa toda a estimativa para o Brasil inteiro nos próximos anos, caso realmente os chineses resolvam mesmo colocar seu dinheiro por aqui.

De qualquer forma, não é segredo que os chineses ficaram bastante interessados nos projetos que existem para os portos de Santos e São Sebastião. Representantes de Pequim que estiveram por aqui antes da viagem de Alckmin disseram informalmente que os dois portos, mais o do Rio de Janeiro e o de Paranaguá (Paraná) são importantes entrepostos para qualquer um que queira investir no Hemisfério Sul.

Alckmin parece disposto a não perder a oportunidade e garantiu a abertura de um escritório comercial em Xangai em parceria com a BM&F (Bolsa Mercantil e de Futuros) para iniciar contatos comerciais. Mas será que os paulistas não estão indo com muita voracidade ao pote? É justificada a animação em relação aos chineses, já que até agora, de concreto mesmo, apenas um investimento de US$ 1,5 bilhão da empresa Baosteel em Minas Gerais?

O aumento do cais santista é defendido por Alckmin por ser uma área estratégica para o incremento das exportações estaduais. ‘‘Imagine 1,2 bilhão de pessoas com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo a 9% ao ano. O nosso desafio hoje é aumentar as exportações. Com o mercado interno (brasileiro) deprimido, o caminho é pisar no pé do acelerador (da exportação).’

O que o governo tucano de São Paulo guarda na manga é o interesse de duas companhias – os japoneses Grupo Mitsubishi e a siderúrgica Nippon Steel, sendo que o primeiro estaria interessado em arcar com um terço do negócio.

E com essa informação que o governador Alckmin e seus principais assessores contam para convencer os chineses do bom negócio que seria estabelecer-se ‘de forma definitiva’ na América do Sul. E o governador de Minas Gerais (PSDB) garante que os chineses consideram o mercado brasileiro – e, por tabela, todo o Mercosul – uma grande fronteira comercial a ser explorada.

E até que ponto seria interessante o estado de São Paulo jogar com uma competição direta entre japoneses e chineses por investimentos na área de infra-estrutura? Uma composição entre os dois investidores não poderia ser tentada? As primeiras avaliações das reações de ambos os grupos é que uma ‘cooperação’ ou uma ‘coabitação’ entre investidores das duas nações em áreas tão estratégicas seria inviável (há ainda histórica rivalidade entre os dois povos).

O projeto expansão do porto, denominado de Barnabé-Bagres, prevê um novo porto entre as ilhas de Barnabé e Bagres. O empreendimento teria 6 milhões de metros quadrados, elevando para 13 milhões de metros quadrados a área do complexo inteiro. Com a obra, a estimativa é de que sejam movimentadas 200 milhões de toneladas de cargas, saindo das atuais 80 milhões de toneladas.

Navegar no Tietê

A hidrovia também não ficará de fora deste pacote. Os orientais também esticam os olhos para o potencial econômico da hidrovia dos rios Paraná e Tietê e isso não passou despercebido pelo secretário de Desenvolvimento de São Paulo, João Carlos Meirelles, outro integrante da comitiva que foi à China.

Na bagagem do secretário, estarão também planos para incrementar a hidrovia e também outros para a exploração comercial do rio Tietê na Grande São Paulo, o que envolve problemas quase insolúveis, como a poluição do rio e a falta de investimento nas regiões em que ficam em sua margem.

As primeiras iniciativas neste sentido já estão saindo do papel. O governo estadual garante que, em pouco tempo, será possível que estudantes, profissionais das áreas de recursos hídricos e ambiental e, em última análise, turistas possam passear em embarcações pelo rio desde o extremo da zona leste até o encontro com o Pinheiros. Em até 90 dias, será construído um porto perto da eclusa do Tietê com o Pinheiros.

Batizado de Navega São Paulo, o projeto envolve uma PPP, com a participação da Basico Engenharia e Construções, uma das concessionárias que trabalham no rebaixamento da calha do Tietê. Com o governo do Estado, a empresa está buscando recursos na iniciativa privada para a manutenção e a construção de toda a estrutura.

Pelo projeto, o porto será uma espécie de centro educacional, com local específico para exibição de filmes didáti-cos e palestras e conscientização sobre o meio ambiente. A idéia é que esses passageiros sejam agentes multiplicadores de informação sobre o Tietê e a ecologia. Esses passeios, gratuitos, sairão duas vezes ao dia da eclusa até o Complexo Viário Maria Campos, em Osasco.

Com a conclusão do rebaixamento da calha do rio Tietê, o governo estadual poderá criar uma hidrovia metropolitana para o transporte de passageiros e cargas. Inicialmente, o novo sistema de transporte ligará a Barragem da Penha, em São Paulo, ao lago da Barragem Edgard de Souza, em Santana de Parnaíba, pelo rio Tietê (40 quilômetros de extensão).

Hidroanel

Entre a profusão de projetos que despontam na área de transporte, um chama atenção: a criação de um hidroanel que uniria o ABC (Grande São Paulo), através da represa Billings e dos rios Pinheiros e Tietê, ao aeroporto de Guarulhos. Ainda é só uma idéia, mas provocou o interesse de muitos empresários e gestores públicos em um seminário em São Paulo em maio.

O desejo de aproveitar melhor os recursos hídricos da Grande São Paulo é antigo, mas somente agora é que as represas Guarapiranga e Billings começam a entrar em planos para transportar cargas e passageiros. O secretário João Carlos Meirelles já tem em sua mesa uma proposta de um passeio turístico ligando o ABC, a zona sul de São Paulo e a Baixada Santista. Uma segunda idéia foi criar uma ligação pela Billings entre Diadema e o Grajaú, bairro na zona Sul da capital, o que reduziria para 30 minutos o tempo de viagem até o terminal Jabaquara do metrô.

A EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) estima que em mais 10 ou 20 anos toda a hidrovia do rio Tietê, incluindo a Grande São Paulo, esteja concluída. Os debates ainda estão na fase inicial e englobam a interligação do sistema de transportes paulista com a utilização dos rios Tietê, Pinheiros, além das represas Billings e Taiaçupeba, nos municípios de Rio Grande da Serra e Suzano.

Há estimativas bastante otimistas a respeito da utilização das represas como uma hidrovia destinada ao transporte público. Um roteiro Diadema-Grajaú (zona sul de São Paulo) poderia se constituir em importante ligação com o terminal Diadema do trólebus e, consequentemente, com a estação Jabaquara do metrô, diminuindo bastante o tempo de viagem entre aquela estação e o extremo da zona sul paulistana. Para as prefeituras, haveria custos baixos, com a construção de acessos às represas, algumas avenidas e miniportos ou estações de embarque.