Cesp consegue reproduzir surubim-do-paraíba

O Estado de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 11 de agosto de 2004

qua, 11/08/2004 - 9h32 | Do Portal do Governo

Poluição e predadores exóticos haviam quase dizimado espécie no Rio Paraíba do Sul

LUIZ ROBERTO DE S. QUEIROZ

O surubim-do-paraíba, um peixe de couro que pode atingir 7 quilos e estava praticamente extinto, começou a ser reproduzido pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em Paraibuna (SP). Depois de dez anos de pesquisa, o setor ambiental da Cesp conseguiu uma primeira ninhada de 7 mil filhotes, que já chegaram a 12 centímetros.

É tão difícil encontrar matrizes desse peixe – que foi quase eliminado pelos dourados e pela poluição -, que a Cesp tem pedido aos pescadores que conseguirem exemplares adultos para que os mantenham vivos e os entreguem na Estação de Hidrobiologia de Paraibuna. Foram também firmados convênios com duas ONGs da Bacia do Paraíba, no Rio e em Minas, a fim de obter surubins com outra herança genética. ‘Precisamos de variação de DNA para evitar a consangüinidade e tornar viável a preservação da espécie’, diz o diretor de Geração Oeste da Cesp, Silvio Roberto Areco Gomes.

Dourado – O surubim-do-paraíba, um gênero diferente do surubim amazônico, só existe na bacia do Rio Paraíba do Sul, que é bastante isolada. Seu couro é claro, branco na barriga e com pequenas manchas negras redondas no resto do corpo.

‘Era o peixe mais nobre da bacia até 1945’, diz o biólogo Danilo Canechaneppele. Naquele ano, o dourado foi introduzido e as estatísticas dos pescadores mostram que, cinco anos depois, começou a se reduzir a captura da piabanha e do surubim, predados pelo dourado. A piabanha não é problema, pois há anos a Cesp domina a técnica de reprodução e repovoa tanto o Rio Paraíba quanto represas que mantém na região. O surubim, entretanto, era um problema grave.

Durante anos os especialistas da Cesp procuraram surubins. Só conseguiram os três primeiros exemplares quando uma entidade conservacionista de Juiz de Fora (MG) informou que na região ainda era possível pescar esse peixe.

Outros três exemplares foram conseguidos na região de Três Rios (RJ), depois de um apelo feito pela televisão. Posteriormente, a Cesp reuniu mais nove.

Foi com esse plantel que começou a reprodução induzida, com injeção de hormônio, para substituir o estímulo da piracema que, em cativeiro, os peixes não têm.

Nascidos os alevinos, foi preciso encontrar a alimentação adequada – larvas de crustáceo e de lambari – até que os peixes passassem a aceitar ração comercial, com 45% de proteína. Outro problema foi a fotofobia. Descobriu-se que o surubim só se desenvolve bem na ausência de luz. Novas pesquisas levaram à descoberta de um sombrite que bloqueia 75% da iluminação. Quando o problema parecia resolvido, os alevinos se mostraram canibais e começaram a comer os irmãos menores, obrigando os técnicos a separarem a ninhada por tamanhos.

A Cesp entra, agora, na fase de identificar velocidade de ganho de peso, taxa de conversão alimentar e estabelecer qual o peso ideal para comercialização, possivelmente em torno de 3 quilos. Antes de a criação em larga escala do surubim estar dominada, os pesquisadores apresentarão três trabalhos científicos no próximo Simpósio Brasileiro de Aqüicultura. Além disso, um convênio foi firmado com a Emater do Rio. ‘À Cesp interessa basicamente dominar o know how, evitar a extinção do peixe e repovoar suas represas e de outros interessados’, explicou Gomes.