Cemitério da Consolação, 147, é tombado

Folha de S. Paulo - Terça-feira, 12 de julho de 2005

ter, 12/07/2005 - 10h22 | Do Portal do Governo

Personalidades como Monteiro Lobato e Tarsila do Amaral estão enterradas no local, que abriga várias obras de arte tumular

Cláudia Collucci
Da Reportagem Local

O cemitério da Consolação tem exatos 147 anos e três dias de história. Foi tombado no último sábado, data de seu aniversário de fundação, por força de uma resolução publicada no ‘Diário Oficial’ do Estado de São Paulo.

O tombamento também inclui o cemitério dos Protestantes – construído em 1864 para os não católicos- e o cemitério da Ordem Terceira do Carmo, localizados na mesma área.

Primeiro cemitério do município de São Paulo, o Consolação abriga cerca de 8.500 túmulos -entre eles, os de personalidades como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, Mário e Oswald de Andrade- e obras de arte tumular, como a do escultor Victor Brecheret.

A partir de agora, todas as intervenções a serem realizadas nos jazigos do cemitério, especialmente em suas esculturas, deverão ser submetidas à aprovação do Condephaat (conselho estadual de preservação). O local reúne cerca de 8.500 sepulturas.

Mudanças no seu traçado interno e nos seus equipamentos – tais como capela, ossário e portal, projetados por Ramos de Azevedo – também devem passar pelo crivo do conselho por serem representativos da tipologia dos cemitérios construídos entre o final do século 19 e começo do 20, segundo José Roberto Melhem, presidente do Condephaat.
Até cortes de árvores no cemitério devem ser aprovados pelo órgão. Cortes de árvores? Melhem explica: ‘Muito da beleza do cemitério depende da vegetação que lá existe. Se começam a depenar as árvores, vai prejudicar’.

O órgão não precisará ser consultado para sepultamentos ou remoção de despojos, exceto se a ação implicar na alteração das características do patrimônio.

A resolução aprovada também protege a área que circunda o cemitério (ruas da Consolação, Coronel José Eusébio, Mato Grosso e Sergipe). Na quadra tombada, por exemplo, não serão permitidos anúncios, exceto placas de utilidade pública quando autorizadas pelo Condephaat.

De acordo com Melhem, durante muitos anos houve dúvidas se o tombamento deveria ser total ou parcial. ‘Mas, devido à grandeza do acervo, decidiu-se por tombar tudo. Assim, todos os aspectos culturais ficam protegidos.’

Artistas como Galileo Emendábile e Nicola Rollo têm trabalhos no local. Rollo projetou uma das primeiras obras consideradas de temática profana em cemitérios, ‘Orfeu e Eurídice’, que remete à mitologia grega, o que não era comum quando foi idealizada, em 1920, para a família Trevisioli. Brecheret esculpiu em 1923 uma Pietá com quatro Marias, chamada Sepultamento. A obra ganhou um prêmio especial numa mostra em Paris e, mais tarde, serviu de modelo para o Monumento das Bandeiras, de 1953.