Carandiru: no chão em 4 segundos

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 18 de julho de 2005

seg, 18/07/2005 - 8h44 | Do Portal do Governo

Implosão dos pavilhões 2 e 5 custou R$ 2,5 milhões e precisou de 200 quilos de dinamite; nuvem de poeira cobriu toda a região

Mauro Mug

Em quatro segundos os pavilhões 2 e 5 da antiga Casa de Detenção, no Carandiru, vieram abaixo. Exatamente às 11 horas de ontem, o governador Geraldo Alckmin apertou o botão vermelho do detonador de 200 quilos de dinamite, provocando 1.500 explosões em série. A operação, que custou R$ 2,5 milhões aos cofres do Estado, foi necessária para dar continuidade à construção do Parque da Juventude, uma área de 90 mil metros quadrados na zona norte (Leia ao lado).

Depois do estrondo, uma enorme nuvem de poeira avermelhada cobriu o local – e todos que estavam lá. Políticos, secretários, repórteres, fotógrafos, policiais saíram correndo dos palanques à procura de abrigo.

Uma camada fina de pó cobriu paletós e blusas, enquanto as pessoas tossiam, esfregavam os olhos ou tampavam o rosto com lenços e mangas de camisa. Funcionários da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) serviam copinhos com água para limpar a garganta.

Dez minutos antes da detonação, as pessoas que se encontravam nas plataformas e no mezanino da estação Carandiru do metrô foram retiradas e os acessos à estação, fechados. Cinco minutos depois, a circulação dos trens entre as estações Santana e Tietê foi interrompida por meia hora.

Os curiosos e moradores do bairro puderam assistir à implosão num telão montado na Avenida Ataliba Leonel, que margeia o terreno. ‘Moro aqui há 30 anos e vi muita confusão, fugas e rebeliões. Espero que nossa vida fique mais tranqüila agora’, brincou o aposentado Felício Chaves, de 78 anos.

Inaugurada em 1956, a Casa de Detenção chegou a abrigar 8.500 presos de uma só vez e se transformou em um símbolo de superlotação carcerária e desprezo aos direitos humanos. O episódio mais famoso disso foi o massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992, em que 111 presos foram mortos pela Polícia Militar.

A promessa inicial do governo era entregar o parque pronto em dezembro de 2003, mas a obra atrasou. Em dezembro de 2002, ocorreu a implosão dos pavilhões 6, 8 e 9. O pavilhão 9, palco do massacre de 92, foi o primeiro a vir abaixo. Depois, desapareceram o 8 e o 6.

Charme

Hoje começam as obras do Parque Institucional, a parte do parque destinada a exposições e apresentações de peças teatrais. De acordo com o governador, devem durar 11 meses. Só a retirada do entulho levará quatro. ‘Com a implosão, o Carandiru deixa de ser um péssimo modelo de sistema prisional para dar lugar ao charme de uma cidade grande’, disse ele.

No momento em que relacionava detalhes das obras, Alckmin foi interrompido por um repórter que queria saber sua opinião a respeito das declarações do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. ‘O dilúvio é em outro lugar, aqui é implosão’, respondeu.

Obra para completar parque deve levar 11 meses

Com a implosão dos Pavilhões 2 e 5 do antigo complexo prisional do Carandiru, o governo do Estado inicia hoje a última fase de obras do Parque da Juventude. Na área de 90 mil metros quadrados, antes ocupada pelos dois prédios, será erguido o Parque Institucional, que abrigará um Pavilhão de Exposições e um teatro.
Das sete unidades que compunham a Casa de Detenção, apenas os Pavilhões 4 e 7 serão mantidos, mas passarão por grandes reformas. Os locais vão abrigar uma escola técnica estadual, uma unidade do Acessa São Paulo, o Instituto de Promoção da Saúde e o Núcleo de Artes Integradas. A previsão é que todas as obras sejam concluídas em 11 meses.

O parque começou a ser construído em dezembro de 2002, quando foram implodidos os antigos Pavilhões 6, 8 e 9. A primeira fase do projeto foi inaugurada em setembro de 2003: um parque esportivo de 35 mil metros quadrados, com 10 quadras esportivas, pistas de skate e de cooper, vestiários, lanchonete e estacionamento.

Em setembro do ano passado, foi entregue o Parque Central, uma área verde de 95 mil metros quadrados. Neste trecho, foi preservado o que restou da vegetação nativa de mata atlântica. Um trabalho para despoluir o Córrego Carajás, que passa pelo parque, também foi iniciado e deve ser concluído junto com as outras obras.

A única lembrança concreta do Carandiru é a muralha do presídio. Ali os visitantes poderão refazer o caminho rotineiro dos vigias quando o presídio ainda funcionava. A penitenciária foi desativada no dia 15 de setembro de 2002, após 45 anos de atividades.

O investimento na área, incluindo as implosões dos pavilhões, deve ultrapassar a quantia de R$ 60 milhões. Hoje, o parque recebe a visita de 50 mil pessoas por mês.