Caracol dourado é opção a escargot que virou praga

O Estado de S. Paulo - Suplemento Agrícola - Quarta-feira, 18 de naio de 2005

qua, 18/05/2005 - 11h39 | Do Portal do Governo

Instituto de Pesca desenvolveu tecnologia de criação do caracol que tem sabor mais suave do que o Achatina fulica, cuja população ficou fora de controle

Niza Souza

Uma nova espécie de molusco, criado na água, pode ser a alternativa para suprir a falta do escargot nos restaurantes de alto padrão e uma opção rentável para pequenos. Depois de muitas experiências e estudos, a pesquisadora Vera Lobão, do Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura, está prestes a apresentar o caracol dourado (Pomacea bridgesii) para um grupo chefs de cozinha de São Paulo. A idéia é introduzir o caracol dourado para ser usado em pratos antes preparados com o escargot, que anda em falta no mercado desde que o Achatina fulica virou praga (veja ao lado).

‘Na verdade, não queremos substituí-lo. O caracol dourado é um produto completamente diferente, apesar de ser ‘primo’ do escargot’, diz Vera, que também é presidente da Associação Paulista de Criadores de Escargot (Apace). Segundo ela, a carne do caracol é branca, a textura é semelhante à da lagosta e o sabor comparado ao da ostra. ‘E é mais suave que o A. fulica, pois é criado em água doce e não na terra.’

Embora seja comestível, a espécie nunca havia sido explorada comercialmente para fins culinários. ‘Nós o pegamos na natureza e desenvolvemos um sistema de engorda. Já vimos que dá para ter uma produção comercial. Agora só falta o aval dos chefs.’ A degustação será no mês que vem e tem o apoio da Associação Brasileira da Alta Gastronomia (Abaga). Se o produto for bem aceito, o consumidor poderá vê-lo em breve nos cardápios. ‘Já há alguns produtores’, diz Vera.

Investimento

Para iniciar a produção, o ideal é que o interessado tenha um sítio com um lago. Os caracóis devem ser criados em confinamento, em tanques-rede de 1x1x1 metro, com capacidade para 780 litros de água. Em casas especializadas, cada tanque-rede custa R$ 500. Mas pode-se fazê-lo de forma caseira, com tela e garrafas pet, aí gastam-se R$ 44 por tanque.

As matrizes do caracol são vendidas pelo Instituto, por R$ 5 cada. O mínimo recomendado para começar a criação são cem matrizes (1 macho para 40 fêmeas). ‘Com 1,25 animal por litro, ou mil animais/tanque, em seis meses tiram-se 8 quilos, ou 2 quilos de carne’, diz Vera. ‘E dá para vender o quilo por R$ 130.

Molusco já vive em equilíbrio na natureza

A pesquisadora Vera Lobão descarta qualquer hipótese de o caracol dourado tornar-se praga, como aconteceu com o escargot africano Achatina fulica. ‘Esta é a única espécie de Pomacea que não é considerada praga pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), porque os animais desta espécie só se alimentam de materiais em decomposição.’ Além disso, ressalta, o caracol dourado já faz parte da natureza há muito tempo e, se houvesse qualquer possibilidade de virar praga, isso já teria ocorrido.
O Achatina fulica, originário da África, foi trazido para o Brasil no fim dos anos 70. Naquela época, o mercado de escargots estava em alta e surgiram muitos cursos de criação. O problema, explica Vera, é que muitos cursos não eram ministrados por técnicos no assunto, que ensinavam a criação em ambiente aberto. Com isso, os criadores não conseguiam oferecer para o mercado uma carne de qualidade e, em vez de abater e comercializar o escargot, soltavam-no na natureza, o que acabou transformando-o numa praga. Vera recorda ainda que em janeiro de 2003 o Ibama orientou para que não se criasse mais essa espécie de escargot. Em São Paulo, a criação é proibida por lei.

Vera dá uma dica para quem deseja manter afastados os caramujos. Um estudo desenvolveu a barreira com sabão em pó. A receita é simples: pegue o sabão em pó e misture-o com água, até adquirir consistência de mingau. Com um pincel ou brocha, demarque o entorno da casa, ou os limites do jardim ou da horta de onde deseja afastá-los. Uma simples passada é suficiente para barrar os caramujos por até três semanas, se não chover. Para exterminar o caramujo, pegue uma lata ou latão, encha-a de água, ponha os caramujos – capturados por catação manual – e cozinhe por 5 minutos, após levantar fervura. Depois, enterre os bichinhos mortos. Qualquer tipo de manuseio deve ser feito com luvas.

Saiba mais: Instituto de Pesca, Vera Lobão, tel.: (0–11) 3871-7516; ou no site www.apace.cjb.net