Capacitação de diretor melhora nível escolar

Folha de S. Paulo - São Paulo - Terça-feira, 28 de dezembro de 2004

ter, 28/12/2004 - 9h16 | Do Portal do Governo

Experiência em 200 escolas públicas de SP e SC mostra avanços no desempenho dos estudantes em curto prazo

DA SUCURSAL DO RIO

Experiência em 200 escolas públicas nos Estados de São Paulo e de Santa Catarina mostra que é possível ter alguns resultados imediatos no avanço da qualidade do ensino público brasileiro melhorando a gestão do diretor das unidades de ensino.

Um teste do projeto Gestão para o Sucesso Escolar aplicado aos alunos dessas escolas antes e depois de um programa de capacitação de diretores mostrou que o desempenho escolar médio dos estudantes melhorou de 2003 para este ano.

Entre alunos da 4ª série do ensino fundamental, a média de acertos numa prova de língua portuguesa passou de 24 para 29 num total de 40 questões. Adaptando para uma escala de 0 a 100, a média subiu de 61 para 71. O mesmo aconteceu com alunos da 8ª série, na qual a média de acertos passou de 26,5 para 30 questões, o que, numa escala de 0 a 100, equivale a uma melhoria de 66 para 75.

Neste mês, a qualidade da educação brasileira foi novamente criticada após uma avaliação internacional (o Pisa, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) ter colocado o país nas últimas colocações de um ranking de ensino feito entre 41 nações desenvolvidas ou em desenvolvimento.

O teste aplicado aos alunos das 200 escolas públicas seguiu o padrão do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação brasileira). Foram aplicadas provas com o mesmo nível de dificuldade neste ano e no ano passado.

Nesse intervalo, o Instituto Gestão Educacional (da Fundação Lemann) e o Instituto Protagonistés ofereceram aos 200 diretores dessas escolas um curso de capacitação feito, na maior parte do tempo, pela internet, ou seja, sem que tivessem que sair do trabalho.

Os melhores diretores foram premiados com um curso de capacitação em Buenos Aires (Argentina) e suas escolas receberão uma verba de R$ 15 mil para ajudar na implementação de um projeto pedagógico.

Na avaliação da diretora-executiva da Fundação Lemann e do Instituto Gestão Educacional, Ilona Becskeházy, os resultados dos testes mostraram que é possível melhorar a educação a curto prazo. ‘O problema da qualidade do ensino no Brasil exige o aumento do investimento per capita, mas os resultados mostram que é possível ver melhorias mensuráveis num curto espaço de um ano trabalhando com os diretores de escolas’, disse Becskeházy.

Para Rose Neubauer, diretora-presidente do Instituto Protagonistés, os diretores que tiveram os melhores resultados foram aqueles que conseguiram envolver toda a equipe da escola no projeto de melhoria da qualidade. ‘A partir da avaliação inicial, a gente dava dicas e discutia com os diretores alternativas para melhorar o desempenho dos alunos nos pontos em que eles estavam mais fracos. Após esse diagnóstico, cabia ao diretor agir como liderança e reunir os professores para trabalhar essas questões’, diz.

Becskeházy afirma que os resultados do teste mostram como é importante evitar que a escolha de diretores de escolas públicas seja pautada por questões políticas ou corporativistas.

‘A carreira dos diretores e professores tem que se pautar no interesse do aluno, e não no interesse político ou dos sindicatos. No caso dos professores, por exemplo, é comum ver os mais experientes em funções burocráticas, quando poderiam estar trabalhando com os alunos. É comum também que o professor escolha onde quer trabalhar, quando o correto seria encaminhar os melhores para as escolas que mais precisam’, afirma a diretora-executiva da Fundação Lemann.

No caso dos diretores, Neubauer afirma que a maioria dos cursos de capacitação para os gestores da escola no Brasil enfatizam muito mais questões burocráticas do que pedagógicas:

‘É muito mais fácil você formar um burocrata do que uma liderança pedagógica. Em vários países, os diretores que passam por concurso só são efetivados no cargo após fazer um curso de liderança. Acho que temos que caminhar nessa direção’, diz a educadora. (ANTÔNIO GOIS)