Cana resiste à valorização dos grãos no Estado de São Paulo

Gazeta Mercantil - São Paulo, 11 de julho de 2008

sex, 11/07/2008 - 14h40 | Do Portal do Governo

Gazeta Mercantil

Os altos preços dos grãos não foram suficientes para impedir expansão ainda maior da área cultivada da cana-de-açúcar, que ganhou mais 100 mil hectares no Estado. Segundo informações do Instituto de Economia Agrícola (IEA), a área passou de 4,83 para 4,93 milhões de hectares, um incremento de 2% em relação ao ano anterior. Os grãos tiveram uma elevação de 0,97% em relação a 2007, um total de 1,77 milhão de hectares.

“O estado já se consolidou como pólo sucroalcooleiro. Mas como os preços da cana não estão remunerando bem, acredito que esse crescimento diminuirá”, prevê João de Almeida Sampaio, secretário da Agricultura do Estado de São Paulo. Ele acredita que os altos preços das commodities agrícolas devem fazer com que as usinas realizem a rotatividade com culturas. Disse que as indústrias precisam renovar entre 15% e 20% do canavial ao ano e nos três últimos, estavam deixando a terra descansar por causa da baixa remuneração dos grãos.

O secretário enxerga uma nova tendência de integração entre o setor sucroalcooleiro e a pecuária. “Acreditamos que o confinamento tenha crescido no Estado. Os produtores aproveitam para utilizar o bagaço da cana para alimentação do gado”, explicou.

Para Jacqueline Bierhals, gerente de agroenergia da AgraFnp, a área de cana já está estabilizada e dificilmente perderá espaço para outras culturas. “Mesmo com um prejuízo de R$ 10,00 por tonelada produzida, o setor sucroalcooleiro não deverá perder espaço”. Disse ainda que mesmo com os grãos muito mais rentáveis que a cana, o produtor não trocará de cultura de um ano para o outro. “Os produtores têm que manter a área por pelo menos 7 anos.”, explica.

Bierhals disse que a cultura que mais perde espaço para a cana é a pecuária. “Principalmente regiões de pastos degradados”, acrescenta. Segundo dados do IEA, a área destinada à pecuária recuou 500 hectares 6 anos. De 10,3 milhões de hectares em 2000 para 9,8 milhões de hectares em 2006.

A gerente acredita que não deverá ocorrer reduções drásticas no cultivo dos grãos. “Regiões como Assis, Ourinhos, Itapeva, Votuporanga e Guaíra já são pólos produtores de grãos consolidados”. Mas acrescentou que o cenário de incertezas deverá fazer com que o produtor espere até o limite máximo para definir o plantio do próximo ano.

O destaque dos grãos fica com o trigo. O levantamento da safra paulista atual de trigo aponta um salto na área cultiva de 40,82 mil em relação ao período anterior, para 75,23 mil hectares, aumento de 84%. Na produção, o crescimento é de 102%, saindo de 93 mil para 190 mil toneladas. É o maior crescimento de área já registrado no estado.

Para o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Trigo (Sindustrigo), Christian Saigh, o crescimento está vinculado à parceria entre os moinhos e o governo do Estado. “O produtor não precisou gastar com semente de qualidade. Desta forma, ele conseguiu investir mais em tecnologia e conseguiu aumentar a produtividade”, avalia. Ele acredita que em cinco anos o Estado será o terceiro maior produtor do Brasil.

Já para João Girghi Neto, produtor da região de Itapeva, “esse crescimento ocorreu por causa da boa remuneração. Com preços internacionais em alta e demanda aquecida”. Quanto ao programa, ele não conhece nenhum produtor que tenha utilizado.

(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 8)(Roberto Tenório)