Cana avança pelo sudoeste de SP

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 16 de agosto de 2006

qua, 16/08/2006 - 10h41 | Do Portal do Governo

Bons preços pagos pelas usinas seduzem produtores. Muitos até deixam os grãos de lado

Cláudio Rostellato

Sai o amarelo-ouro da soja e do trigo e o gado de corte: surge o verde da cana. A paisagem do sudoeste paulista, mais precisamente do município de Itapeva, começa a ganhar novas cores. A crise nos cereais e na pecuária está levando produtores e proprietários rurais da região a mudar para o lucro certo das usinas de álcool. Em vez de plantar ou arrendar para produtores de cereais e pecuaristas, eles estão preferindo negociar com os usineiros, que pagam bem mais pelas terras para plantio de cana e, em alguns casos, de forma antecipada. Apenas nos últimos dois anos a área plantada dobrou em Itapeva, passando de 3.500 para 7 mil hectares, e continua crescendo.

Semanalmente, os técnicos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Itapeva recebem entre 10 e 15 proprietários de terras interessados em conhecer mais a fundo sobre a cultura canavieira e como proceder para iniciar o plantio. O município, que há alguns anos ostentou o título de segundo maior produtor de milho do País, com área de 22 mil hectares, assiste à mudança de rumo dos produtores.

SEM SAÍDA

Para o agrônomo Vandir Daniel da Silva, responsável pela Cati de Itapeva, embora a monocultura seja perigosa para uma região tradicionalíssima na produção de grãos, o produtor não está tendo outra saída, senão migrar para o plantio de cana. “Muitos produtores e proprietários estão recebendo de volta as terras que arrendaram para o plantio da soja e do milho. Como esses grãos estão em crise, a cana surge como salvação da lavoura”, explica.

Segundo ele, boa parte desses 7 mil hectares foram arrendados à Usina de Álcool Londra, instalada em Itaí (a 50 quilômetros de Itapeva), que paga valores entre R$ 350 e R$ 500 por hectare/ano, de acordo com a distância da sede. O proprietário não tem nenhum trabalho, a não ser assinar o contrato. Um dos primeiros a aderirem foi Pedro Nazareth Menck Júnior. Dos 340 hectares da Fazenda Nazareth, há quatro anos ele decidiu arrendar 180 para a Usina Londra plantar cana, ao preço de R$ 400 o hectare/ano. Antes, a área era ocupada por milho e pecuária.

RENDA CERTA

Essa área lhe garante uma renda de R$ 72 mil/ano, sem investir nenhum centavo, sem trabalho nenhum. “Se estivesse com o gado, a receita não chegaria nem perto disso. Um hectare de milho, numa boa produção, daria a média de 140 sacas de 60 quilos. Com a saca a R$ 14 e um custo de produção de R$ 12 por saca, estaria ganhando R$ 280 por hectare”, explica.

Além da renda certa aos produtores e proprietários rurais (alguns recebem antecipado), o plantio da cana gera empregos no campo e todos com carteira assinada. Só a Usina Londra, que tem sede em Piracicaba, emprega cerca de 700 trabalhadores, todos com os direitos trabalhistas assegurados.

Outro que aderiu à cana e se diz plenamente satisfeito é o agrônomo Gustavo Camargo Lopes, proprietário da Fazenda Cercado Grande. Dos 1.600 hectares arrendou 370 hectares para a usina. Antes, a área era ocupada por soja e milho. Na propriedade ele mantém outros 360 hectares com produção própria de cereais, mas afirma que é incomparável a vantagem para a cana. “Um hectare de soja rende R$ 125, enquanto a cana me dá R$ 434”, diz o fazendeiro, que ressalta a expansão que a cana vem tendo na região.

PREÇO DE TERRA

A cana seduziu a grande maioria dos produtores nas regiões norte e noroeste do Estado de São Paulo e agora avança para o oeste e sudoeste. São usinas e destilarias que arrendam as terras, especialmente da região de Itapeva, no sudoeste, a um preço inferior de regiões canavieiras tradicionais de São Paulo. Na região de Ribeirão Preto, por exemplo, o hectare, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), custa em média R$ 600, ante R$ 350 de Itapeva. Além da terra bem mais em conta, a mão-de-obra farta ajuda a proliferar os canaviais por áreas onde antes reinavam absolutos feijão, soja e milho.

Aos produtores e proprietários rurais, oferecem lucro certo. E estes não pensam duas vezes em abandonar sua atividade tradicional para colher os lucros garantidos da cana. “É muito atrativo, o produtor pode deixar de arriscar com a lavoura, com financiamento bancário, para apostar num negócio que muitas vezes tem pagamento antecipado”, diz Silva, da Cati.

De acordo com o agrônomo, o crescimento da área plantada deve aumentar significativamente se a exportação de álcool brasileiro também crescer. “Hoje, todas as áreas plantadas pertencem às usinas (Londra e Iracema). Toda a cana é usada na produção de álcool, mas uma procura maior do mercado externo e a possibilidade de produzir açúcar podem levar a uma debandada de produtores de cereais para esse setor”, diz.

SAIBA MAIS:

Cati Itapeva, tel. (0–15) 3522-4646 e 3522-0177