Jornal da Tarde
Aos 5 anos ele já sabia dividir, multiplicar, somar e subtrair. Hoje, aos 7, é expert em palavras cruzadas, sudoku (jogo de raciocínio japonês) e não cansa de fazer cálculos matemáticos em um caderninho particular. Nicolas dos Santos, que estuda em uma escola pública no Itaim Paulista, periferia da zona leste da capital, é um dos 378 superdotados detectados pelo Caça Talentos da rede estadual de ensino em 2008.
O programa, que começou no início de 2007, formou professores para diagnosticar os casos de crianças que têm “superconhecimentos” em determinadas áreas nas escolas estaduais. Para a surpresa da equipe-coordenadora, o número de superdotados disparou em um ano, saltando de 79 para 378. O segredo desse recorde, de acordo com Denise Arantes, psicóloga do Centro de Apoio Pedagógico Especializado (Cape, órgão ligado à Secretaria Estadual da Educação), é o preparo dos professores para a realização do diagnóstico. “E o desafio não é apenas encontrar, mas sim realizar um trabalho especial para esses alunos desenvolverem as suas habilidades sem deixar de lado as áreas em que não têm facilidade e principalmente a vida social”, explica.
Os pais também são peças-chave nesse processo de descoberta de talento, já que uma criança superdotada não tem necessariamente altas habilidades em todas as áreas e na maioria das vezes os familiares só descobrem após o diagnóstico da escola.
Foi assim no caso de Santos. “Até ele entrar para a pré-escola a gente não percebia, mas depois que começou a conhecer letras e números, aprendia tudo muito rápido. Não vencia comprar palavras cruzadas, temos aos montes em casa”, conta a mãe do menino, a ascensorista Regiane dos Santos, de 24 anos. Foi a partir do diagnóstico dado pela escola no ano passado que a família de Santos descobriu que ele era superdotado. “Ele é a minha calculadora ambulante. Nas compras de Natal sempre perguntava para ele se o dinheiro ia ser suficiente, já que rapidinho somava e subtraía os valores”, comenta Regiane.
Mas a alegria de ter um filho superinteligente é compartilhada com o medo de não conseguir acompanhar o raciocínio avançado do menino. “A gente se preocupa sempre se ele está brincando também e estamos em busca de bolsas de estudo, já que temos medo de não acompanhar a aprendizagem dele. Até inglês ele já sabe”, afirma a mãe do menino.
Outra curiosidade de Santos é a autoelaboração de exercícios. “Ele gosta tanto de fazer contas que o pai deu um caderninho para ele. A gente não vence de colocar contas lá, então ele mesmo inventa os exercícios para resolver.”
Após ter descoberto a superdotação do menino da zona leste, o colégio prepara para o ano de 2009 o chamado enriquecimento curricular, que consiste no preparo de atividades extraclasse especiais para o menino desenvolver suas altas habilidades.
“Todos os alunos considerados superdotados terão esse programa especial, já que os professores que fizeram o diagnóstico foram preparados para isso”, ressalta a psicóloga Denise Arantes.