Butantan planeja criar base na Amazônia

Folha de S.Paulo - Segunda-feira, 10 de outubro de 2005

seg, 10/10/2005 - 12h11 | Do Portal do Governo

Idéia é pesquisar espécies da região para criar novos medicamentos; projeto inclui apoio médico e cultural

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto Butantan, de São Paulo, planeja a instalação de um posto avançado na Amazônia. O local exato ainda não está estabelecido, mas deve ser nas cercanias de Santarém, no Pará, com o objetivo de atuar principalmente na área da Flona (Floresta Nacional) do Tapajós, no norte do Estado.

Com uma base avançada instalada na região amazônica, pesquisadores do instituto terão acesso mais fácil à biodiversidade da região para seus estudos. Em princípio, serão eles os principais usuários das instalações. Farão viagens ao local em esquema de rotação, com o objetivo de coletar espécimes e recolher dados, para então analisá-los com mais detalhes em São Paulo, onde a infra-estrutura é adequada. Mas também existe o objetivo de formar pessoal local.

‘Esse projeto, na verdade, nasceu de uma viagem turística que eu fiz à região, em 2004’, conta Otávio Mercadante, diretor do Butantan. Segundo ele, a região é uma das mais afetadas no país por acidentes ofídicos, ou seja, por vítimas de picadas de cobra. ‘É uma região em que existem os quatro principais grupos de cobras venenosas [surucucu, coral verdadeira, jararaca e cascavel]’, diz.

Com isso, a presença mais consistente de pessoal do Butantan, com uma base avançada, pode ser útil. Desde já Mercadante esclarece que a idéia não é duplicar esforços com o hospital local, ou seja, construir e equipar outra unidade para atendimento médico. O objetivo é somar esforços, prestando consultoria na instalação já existente. ‘Vai haver sempre um médico do Butantan lá’, diz o diretor do instituto paulista.

No campo de pesquisa, duas metas são prioritárias. A primeira é realizar bioprospecção, ou seja, coletar espécimes desconhecidos ou pouco estudados e especular sobre possíveis aplicações de moléculas obtidas a partir do organismo de animais peçonhentos. Muitos remédios surgiram assim.

A base também será importante para fazer um monitoramento mais próximo da biodiversidade e das espécies nativas -que sofrem pressão ambiental cada vez mais intensa, por verem seus nichos ocupados pelo avanço da soja e da pecuária em territórios da Amazônia desmatados para esses fins.

Finalmente, o projeto também terá uma vertente cultural, ecoando o papel da sede do Butantan em São Paulo. Ao redor da base serão construídos um parque e um museu, em que serão expostas as espécies típicas da fauna local.

Apesar de a princípio soar estranho um instituto do Estado de São Paulo montar uma base em outro Estado, não é uma novidade. ‘A USP [Universidade de São Paulo], por exemplo, tem bases assim, então há um precedente’, afirma Mercadante.

Para agilizar a condução do projeto, o Butantan formou uma parceria com a Amabrasil, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que será a instituição responsável pela captação de recursos com fundações e com a iniciativa privada.

O Butantan já tem um detalhamento do projeto, cuja principal pendência no momento é a escolha de um local. O custo estimado para a montagem da base é de cerca de R$ 9 milhões, dos quais cerca de R$ 500 mil viriam do Butantan, na forma da compra de equipamentos de pesquisa. O resto seria arrecadado pela Amabrasil. O custo anual de manutenção ficaria ao redor de R$ 3,4 milhões.

A oficialização do projeto, bem como a decisão sobre o local de instalação da base, deve acontecer nas próximas semanas.