Butantan exporta receita para fazer veneno artificial

Folha de São Paulo - Sábado, dia 6 de janeiro de 2007

sáb, 06/01/2007 - 11h54 | Do Portal do Governo

Folha de São Paulo

Grupo quer engenharia genética em síntese de toxina

RAFAEL GARCIA

DA REPORTAGEM LOCAL

Os pesquisadores do Instituto Butantan que conseguiram produzir veneno de cobra artificial pela primeira vez já estão exportando sua técnica e dizem que podem conseguir produzir venenos de diversas espécies com transferência de DNA.

A bioquímica Norma Yamanouye, que coordena os trabalhos, publicará neste mês em estudo na revista “Nature Protocols” a “receita” para cultivar em laboratório as células secretoras do veneno da jararaca, feito que os pesquisadores haviam anunciado no começo de 2006. A espécie é bastante comum no Brasil.

Os cientistas conseguiram extrair células da glândula secretora de veneno da cobra e cultivá-las em laboratório. Apesar de isso ter se mostrado tecnicamente difícil, é provavelmente a única maneira de produzir o composto sem usar serpentes, já que o uso de outras células, mais fáceis de cultivar, não teve êxito.

“O próximo passo vai ser tentar produzir uma quantidade maior de veneno”, diz Yamanouye. “Queremos “imortalizar” as células secretoras e criar uma linhagem. Hoje, quando as tiramos da glândula, elas não crescem nem proliferam.”

Por enquanto, os pesquisadores conseguem fabricar 0,6 miligrama de veneno por mililitro de cultura. Dado o custo e o trabalho envolvidos, esse número é suficiente para uso da substância em algumas pesquisas, mas ainda está aquém do necessário para produção de soro antiofídico, por exemplo, ou para pesquisa de novos medicamentos.

A dificuldade do trabalho se deve ao fato de as células secretoras de veneno serem extremamente “especializadas” e pouco suscetíveis a técnicas que promovem a divisão e multiplicação celular. Romper essa barreira é a próxima meta do grupo de Yamanouye.Toxinas “à la carte”

Apesar de terem levado cinco anos para conseguir cultivar as células de jararaca em laboratório, os pesquisadores do Instituto Butantan afirmam que a obtenção do mesmo resultado com outras espécies deve vir mais rápido.

“Acho que daria para seguir a mesma metodologia que usamos agora”, diz. “Mas poderíamos usar essa célula de jararaca e inserir DNA de toxinas de outras serpentes para produzir o veneno delas.”

Se essa abordagem prosperar, pode no futuro dar a pesquisadores uma maneira mais fácil de conseguir venenos de espécies raras.