Butantan desenvolve analgésico a partir de veneno de cascavel

Diário de S. Paulo - Quinta-feira, 1º de julho de 2004

qui, 01/07/2004 - 9h47 | Do Portal do Governo

Substância, para dores crônicas, tem poder 600 vezes maior que o da morfina

Luciana Sobral

Após 12 anos de pesquisa, o Instituto Butantan conseguiu desenvolver uma substância, a partir do veneno da cascavel, que tem um poder analgésico 600 vezes maior que a morfina. Se tudo der certo, os pesquisadores estimam que o produto, indicado para casos de dores crônicas causadas pelo câncer, por exemplo, esteja no mercado dentro de seis a dez anos.

‘O grande avanço é que a substância não provoca dependência física como a morfina, droga que ainda cria resistência no paciente (a pessoa deixa de sentir os efeitos, necessitando de doses maiores com o passar do tempo)’, diz a coordenadora da pesquisa, Yara Cury, do Laboratório de Fisiopatologia do Butantan.

Estudos iniciais, feitos em ratos, demonstraram que a nova droga tem efeito prolongado com apenas uma dose, provocando até cinco dias de analgesia. ‘A morfina dura uma hora’, comenta Yara.

A descoberta começou quando pesquisadores do laboratório notaram que vítimas de picada de cascavel não apresentavam dor como as pessoas picadas por jararaca. ‘Fomos buscar informações nos arquivos do instituto, quando encontramos relatos do próprio Vital Brasil, fundador do instituto, sobre o assunto’, diz Yara.

Com a evidência confirmada, os estudiosos iniciaram, então, no Centro de Toxicologia Aplicada do Butantan, os estudos para isolar a molécula responsável pelo efeito de analgesia. ‘Logo que isso aconteceu, desenvolvemos uma molécula sintética, feita em laboratório, que agora será testada em humanos’, afirma Yara.

De acordo com a pesquisadora, desde que as pesquisas começaram, o Butantan recebeu relatos de pessoas que usavam o veneno da cascavel diluído para acabar com a dor.