Butantã terá vacina da gripe aviária

O Estado de São Paulo - terça-feira, 27 de Setembro de 2005

ter, 27/09/2005 - 11h15 | Do Portal do Governo

OMS enviará a cepa do vírus causador da doença ao instituto em São Paulo, que prevê produzir 20 mil doses já no ano que vem

Adriana Dias Lopes
Colaborou: Claudia Ferraz

O Instituto Butantã vai fabricar a vacina contra a gripe aviária. O primeiro passo foi dado na semana passada. Isaias Raw, diretor da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico do Butantã, em São Paulo, pediu pessoalmente em Genebra a autorização para receber a cepa de um subtipo do vírus da gripe, o H5N1, responsável pela doença. A solicitação foi feita para representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS). ‘Eles toparam na hora. Temos capacidade de produção’, diz Raw.

A idéia do Butantã é fabricá-la antes mesmo da vacina da gripe comum, prevista para ser lançada pelo instituto em 2007. ‘Vamos aproveitar parte das máquinas que importamos para nossa fábrica de vacinas da gripe para equipar um laboratório de emergência. Só aguardamos o aval financeiro do governo.’

A boa notícia é que o Ministério da Saúde acaba de viabilizar a liberação da verba para a criação do laboratório. ‘O dinheiro não estava previsto no Orçamento. Mas o ministro da Saúde (Saraiva Felipe) determinou agora a liberação de R$ 3 milhões’, revela Expedido Luna, diretor de Vigilância Epidemiológica do País. ‘A vacina se tornou um dos mais importantes pontos de nosso plano de ação sobre a epidemia, que está quase concluído.’ O ministro acaba de convocar uma reunião internacional, para novembro, no Rio, para discutir o tema.

‘Assim que o laboratório for concluído, em cinco meses estaremos prontos para fabricar’, diz Raw. A previsão é que, já em 2006, 20 mil doses sejam produzidas. ‘É o suficiente para um primeiro plano de ação, o de imunizar quem tiver contato com pessoas contaminadas em outros países.’

Com isso, o Brasil passou a fazer parte de uma força-tarefa mundial contra a gripe aviária (veja quadro), no caso de uma eventual pandemia da doença, alertada pela própria OMS. Neste momento, por exemplo, mais de mil cientistas europeus estão reunidos na Alemanha, justamente para discutir sobre a gripe aviária. A reunião tem como principal objetivo analisar os resultados das pesquisas dos últimos anos sobre a eficácia da vacina.

Uma das providências mais recentes ocorreu neste mês, quando o governo americano assinou contrato com o laboratório francês Sanofi-Aventis para receber uma quantidade de doses suficiente para acalmar uma pandemia. Na época, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA afirmou: ‘Temos uma vacina. Mas ainda não temos a quantidade necessária para satisfazer a possível demanda de uma epidemia.’

Segundo Raw, não existe ainda uma quantidade suficiente de doses contra a gripe aviária no planeta. E a vacina também não é perfeita. ‘Hoje, para funcionar, uma dose da vacina aviária tem de ser seis vezes maior que a da gripe’, diz. ‘E a produção mundial não abastece mais da metade da necessidade em caso de epidemia.’ O Butantã já está desenvolvendo maneiras de melhorar a eficácia do produto. Uma delas é adicionando hidróxido de alumínio, substância que potencializa o efeito o medicamento.

A gripe aviária já causou a morte de 65 pessoas em quatro países da Ásia, desde 2003. A última foi confirmada ontem, na Indonésia. O H5N1 vive em aves aquáticas, que raramente desenvolvem a doença. O problema é quando outras espécies de aves são contaminadas. O frango libera o vírus nas fezes, que se desmancham e se propagam pelo ar.