Butantã fabricará vacina anti-rábica 100% nacional

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 19 de Setembro de 2005

seg, 19/09/2005 - 10h25 | Do Portal do Governo

Após 10 anos de estudos e uma série de testes, instituto entra em outubro com pedido de autorização na Anvisa; medicamento estará disponível para o governo em 2006

Adriana Dias Lopes

Em outubro, o Instituto Butantã vai entrar com pedido de autorização na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fabricar a primeira vacina anti-rábica 100% nacional.

O produto, que vem sendo estudado há dez anos, já tinha sido testado com sucesso em 70 camundongos e 20 macacos em 2001. Depois, passou pela etapa de testes com 26 seres humanos super selecionados – homens jovens (de 18 a 35 anos) e sadios. E, agora, acaba de passar pela fase final e mais delicada: 200 voluntários (homens e mulheres) de idade e procedência variadas receberam doses da vacina produzida pelo Instituto Butantã. Os resultados já indicaram que ela é eficaz.

‘O estudo final vai sair, no máximo, em três meses. Mas testes simplificados de absoluta confiança comprovaram que a vacina não tem efeitos colaterais e produz anticorpos em níveis adequados’, revela Neide Takaoka, diretora do Instituto Pasteur de São Paulo, ligado à Secretaria Estadual da Saúde.

De acordo com Neusa Maria Frazatti Gallina, chefe da Seção de Raiva do Butantã, a vacina estará disponível para o Ministério da Saúde em meados de 2006. ‘Até o próximo mês entramos com pedido de venda na Anvisa. Aí, é só aguardar a aprovação.’

A meta do Butantã é fabricar 3 milhões de doses anuais, o suficiente para atender à demanda nacional e, ainda, numa segunda etapa, exportar. O valor estimado de cada dose vai ser de US$ 5. Hoje, a vacina usada pelo governo federal é importada da França – do laboratório Sanofi-Pasteur – e custa US$ 7. A vacina francesa atualmente é apenas rotulada e testada pelo Butantã.

SALIVA
A raiva é uma doença de notificação compulsória. Dados do Ministério da Saúde mostram que desde 1986 ocorreram 718 casos de raiva registrados oficialmente no País. Em São Paulo não há casos da doença desde 2001. Em compensação, só nos seis primeiros meses deste ano, já ocorreram 14 casos no Pará e 1 em Sergipe. ‘O grande problema dessa doença é que ela é 100% mortal’, explica Paulo Olzon, infectologista da Universidade Federal de São Paulo.

A doença é causada por um vírus mortal que ataca mamíferos. A transmissão para o homem é feita principalmente pela saliva contaminada do cachorro e do morcego. ‘Depois da mordida, o tempo de incubação do vírus no organismo pode durar de um mês a um ano’, explica Olzon. ‘O objetivo do vírus é atingir o sistema nervoso central, no cérebro. Depois de chegar a ele, praticamente não há mais o que ser feito.’

A vacina anti-rábica pode ser tomada antes de o vírus chegar ao sistema nervoso. Ou seja, a aplicação pode ser feita depois da mordida. ‘Os sintomas aparecem quando o vírus chegou ao cérebro: formigamento na região da mordida, irritabilidade e febre.’ As doses também podem ser aplicadas de maneira preventiva em quem está exposto a riscos, como veterinários ou funcionários de canis.

O tratamento contra a raiva é feito com cinco doses. A segunda injeção deve ser tomada no terceiro dia depois da primeira. A terceira, sete dias depois em relação à primeira. A quarta, 14 dias depois . A última, um mês depois da primeira injeção.