‘Buraco de tatu’ muda a Luz e renova a região

Folha de S. Paulo - Domingo, 22 de fevereiro de 2004

seg, 23/02/2004 - 11h36 | Do Portal do Governo

Obras subterrâneas para ampliar estação, que devem ser entregues em julho, geram planos de comerciantes e da Pinacoteca

Mário César Carvalho, da Reportagem Local

A Luz passa por uma revolução subterrânea. A estação homônima, erguida entre 1895 e 1901 na região central de São Paulo, agora cresce para baixo. Como ela é tombada pelo patrimônio histórico, dois saguões para passageiros de trens urbanos estão em construção sob a velha estação, 12 metros abaixo do nível da rua. Eles aumentarão em 4.800 m² a área de embarque para passageiros da Luz, que é hoje de 2.095 m².

Quando a obra estiver pronta, em julho, a Luz será a terceira estação da cidade em fluxo de passageiros: passarão por lá 200 mil passageiros por dia. Para ter uma idéia do salto, transitam por ela hoje 32 mil pessoas todo dia.

Os 200 mil passageiros estimados para setembro só são inferiores ao fluxo de duas estações de metrô da cidade: Sé (650 mil por dia) e Paraíso (280 mil), as principais interligações do sistema. Em 2008, quando a Luz deve estar interligada à linha de metrô que se estenderá de lá até a Vila Sônia, zona oeste, a previsão é que receba 400 mil passageiros por dia.

A perspectiva de mudança já atraiu boas novas para a região. A Estação da Luz da Nossa Língua, projeto de R$ 30 milhões que ocupará as antigas salas de administração, foi planejada para o local em razão do novo fluxo de pessoas, diz Silvia Finguerut, 46, arquiteta da Fundação Roberto Marinho, que faz a reforma no espaço. ‘Fizemos o equipamento cultural pensando nesse afluxo de pessoas. Esperamos ter de 3.000 a 3.500 visitantes por dia, o que dá mais de 1 milhão por ano.’

A previsão é que o centro de referência da língua portuguesa seja inaugurado no próximo ano.

A Pinacoteca também festeja a obra. ‘A Pinacoteca vai ganhar um acesso para o metrô e para os trens’, diz Marcelo Araújo, diretor do museu. Ele planeja criar um espaço de exposições na nova estação, mas só definirá como será depois de a obra estar pronta.

Comerciantes do Bom Retiro já planejam um auditório subterrâneo para desfiles de moda e feira de negócios ao lado da estação.

Se a idéia sair do papel, haverá um tripé de projetos do arquiteto Paulo Mendes da Rocha na área: ele fez a reforma da Pinacoteca, criou um novo espaço na área administrativa da Estação da Luz e coordena o projeto de auditório dos comerciantes do Bom Retiro.

Modernização

O crescimento subterrâneo da Luz é o maior projeto da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Visa modernizar e interligar as linhas de trens urbanos da região metropolitana -a exceção é a linha C, que corre paralela ao rio Pinheiros.

A construção da estação sob a plataforma é a conclusão de um projeto chamado Integração Centro. A CPTM remodelou 7 km de linhas de trem, do Brás (centro) à Barra Funda (zona oeste), e vai centralizar a operação num novo centro de controle no Brás.

O projeto é orçado em US$ 95 milhões (R$ 285 milhões), dos quais R$ 45 milhões são financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o restante é pago pelo Estado. ‘Operacionalmente, os trens vão passar a ter tecnologia similar ao do metrô’, compara o engenheiro Rui Duarte Criscuolo, 50, gerente de obras e montagens da CPTM.

Escavação

Os dois saguões que estão em construção desde julho de 2001 lembram um buraco de tatu na escala do seriado ‘Terra de Gigantes’. Eles foram escavados literalmente sob o piso da estação.

Para que a plataforma continuasse sendo usada, a CPTM construiu uma laje de concreto de um metro de altura. No piso dos novos saguões, a laje é ainda mais alta -tem 1,5 m de altura.

Em julho, início da operação para testes, a estação terá 14 escadas rolantes e dez de concreto. Numa fase posterior, serão acrescentadas cinco escadas rolantes.

Nada disso garante que a Luz será uma estação tranqüila. ‘A Luz seguirá lotada porque voltará a ser uma das principais portas da cidade’, afirma Criscuolo.