Brasil terá 1ª fábrica de hemoderivados

Gazeta Mercantil - quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2004

qui, 19/02/2004 - 11h41 | Do Portal do Governo

Cristina Borges Guimarães

Iniciativa é do governo de São Paulo, que vai investir R$ 250 milhões em novos laboratórios. O governo de São Paulo planeja investir até 2006 cerca de R$ 250 milhões na construção de três fábricas no estado para ampliar a produção de vacinas e medicamentos para assistência farmacêutica gratuita. A Secretaria de Estado da Saúde deve iniciar no ano que vem a implantação da primeira fábrica de hemoderivados do País para fracionamento de plasma, no Instituto Butantan, na capital paulista. ‘Serão investimentos voltados para a produção de insumos estratégicos para a área da saúde’, disse o secretário de estado da Saúde de São Paulo, Luiz Roberto Barradas.

Os investimentos irão permitir a ampliação da escala de produção pública de medicamentos e contribuir para a redução dos preços dos remédios. As instituições públicas contam com convênios que garantem o pagamento de 10% do valor da compra no momento da assinatura do contrato e o valor restante é pago no recebimento, o que viabiliza a prática de melhores preços.

Economia de US$ 150 milhões

A fábrica de hemoderivados está orçada em R$ 100 milhões e será a primeira unidade de processamento de plasma da América do Sul. Hoje, o plasma é fracionado na Europa, o que dificulta o acesso aos derivados de sangue, como imunoglobulinas específicas, albumina e fatores de coagulação. A princípio, a proposta é que o Instituto Butantan seja responsável pelo fracionamento do plasma dos estados do Sul e Sudeste, ficando, ainda, como opção aos países do Mercosul. ‘Pode haver uma outra unidade no Nordeste para suportar os hemocentros do Norte e Nordeste do País’, disse o diretor do Instituto, Otávio Mercadante.

‘A expectativa é economizar US$ 150 milhões ao ano. O faturamento previsto para 2006 é de US$ 64 milhões’, afirmou Mercadante. Anualmente o Brasil gasta US$ 300 milhões para o processamento do plasma e importação de hemoderivados, adquiridos pelo Ministério da Saúde e distribuídos nacionalmente. A fábrica local terá capacidade para processar 300 mil litros de plasma por ano, gerando 240 mil frascos de imunoglobulina – o hemoderivado mais demandado -, 120 mil frascos de fator 8 – o hemoderivado mais caro, necessário para pacientes hemofílicos -, 50 mil frascos de fator 9 e outros 375 mil frascos de albumina. Inicialmente, toda a produção será voltada para o abastecimento do mercado interno, que processa anualmente 150 mil litros de plasma fora do País.

Além da economia de divisas, uma vez que o pagamento deixará de ser feito em dólares e passará a ser efetivado em reais, cerca de 60% dos investimentos feitos na fábrica serão destinados à compra de equipamentos nacionais e aquisição de tecnologia de processamento – do tipo cromatografia – de domínio brasileiro, desenvolvida pelo próprio Instituto Butantan. ‘Não iremos depender de tecnologia importada como ocorreu no caso das vacinas contra gripe’, disse Mercadante.

Outro projeto do governo estadual é a fábrica de vacina contra o vírus da gripe (influenza), também no Butantan, que tornará o Brasil auto-suficiente em vacinas. Ela será a primeira da América Latina e ocupará uma área de 1,4 mil metros quadrados. Hoje o Butantan apenas embala a vacina adquirida de um laboratório francês. Estima-se que o instituto alcance, em 2006, uma produção de 17 milhões de doses de vacinas contra a gripe.

O governo estadual, o Ministério da Saúde e a Fundação Butantan vão investir cerca de R$ 55 milhões na construção da fábrica, dos quais R$ 34,5 milhões são financiados pelo Fundo Nacional de Saúde do Ministério para a aquisição de equipamentos para a produção das vacinas relativo ao convênio de n 57, de 2003. Os editais para as fábricas de vacina e hemoderivados devem ser lançados este ano.

O Instituto Butantan produziu no ano passado 111 milhões de doses de vacinas – na maior parte tríplice, antitetânica e vacina dupla – que correspondem a 60% do consumo nacional, de acordo com Mercadante. O Instituto também produziu 460 mil ampolas de soro em 2003. Entretanto, a vacina contra a gripe utilizada no Brasil vem de fora. A campanha de vacinação do idoso demanda 16,6 milhões de doses de vacina conta a gripe ao ano.

Barradas disse que um acordo de transferência tecnológica firmado com a Aventis-Pasteur há cinco anos garante o abastecimento do mercado interno. Há dois anos, o Butantan recebe a vacina bruta, envasada pelo Instituto e distribuída pelo Ministério da Saúde. A partir de 2006, 100% do consumo nacional serão supridos por vacinas contra gripe produzidas pelo Instituto. ‘Esta evolução garante uma progressiva redução de custos. E apenas a mudança da moeda em que o pagamento será efetivado já garantirá uma significativa economia de divisas’, afirmou Barradas. De acordo com Mercadante, é prevista uma economia de US$ 20 milhões ao ano, valor que deixará de ser pago à Aventis, e o retorno do investimento deve ser alcançado em três anos.

Nova unidade da Furp

Entre os empreendimentos, está também a construção da segunda unidade da Fundação para o Remédio Popular (Furp), em Américo Brasiliense, no interior de São Paulo. As obras devem custar R$ 70 milhões; dos quais R$ 22 milhões devem ser investidos ainda em 2004. Também devem ser gastos outros R$ 45 milhões na aquisição de equipamentos. O edital de licitação da Furp II foi publicado este mês e a previsão do governo é iniciar as obras neste primeiro semestre.

Segundo o superintendente da Furp, Edson Nakazone, a unidade de Guarulhos tem capacidade para produzir 2,1 bilhões de unidades ao ano e registrou em 2003 vendas de R$ 200 milhões. A nova Furp terá capacidade de 1,8 milhão de ampolas ao mês por turno e 100 milhões de unidades de sólidos por mês por turno. O maior comprador da Furp é o governo estadual, que absorve 55% da sua produção atual.