Brasil pode ter vacina oral contra hepatite B em quatro anos

Folha de S. Paulo Pesquisadores do Instituto Butantan conseguiram obter, em camundongos, imunização por via oral contra o vírus da hepatite B. A atual vacina contra a doença –que é […]

qui, 19/01/2012 - 17h16 | Do Portal do Governo

Folha de S. Paulo

Pesquisadores do Instituto Butantan conseguiram obter, em camundongos, imunização por via oral contra o vírus da hepatite B.

A atual vacina contra a doença –que é desenvolvida pelo Butantan– é aplicada de modo intramuscular.

A aplicação oral pode reduzir custos da produção e da aplicação, e ainda aumenta a eficácia da vacina.

Isso porque, ao receber o antígeno por via oral, o organismo produz mais anticorpos.

“A dificuldade de aplicação das vacinas orais é atravessar a barreira do estômago, cuja acidez que destrói as proteínas da vacina”, diz Osvaldo Augusto Sant’Anna. Ele é coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Toxinas do Instituto Butantan.

Por causa dessa dificuldade, hoje existem apenas duas vacinas orais: a Sabin (contra a poliomielite) e a vacina contra o rotavírus.

A novidade é que os pesquisadores do Butantan introduziram na vacina oral da hepatite B um novo adjuvante, a sílica nanoestruturada.

Esse composto protege o antígeno da acidez do sistema gastrointestinal e estimula o sistema imunológico.

As pesquisas apontaram uma boa resposta na imunização em camundongos.

Agora, os pesquisadores testarão a eficácia da vacina oral em humanos –o que deve levar cerca de dois anos.

Se a resposta imune for tão boa quanto a dos modelos animais, como esperam os cientistas, a nova vacina poderá estar no mercado em cerca de quatro anos.

INOVAÇÃO MUNDIAL

De acordo com Sant’Anna, a introdução da sílica na vacina contra hepatite B pode revolucionar a produção de todas as vacinas atuais.

“Jamais se pensou que essa e outras vacinas pudessem ser administradas por via oral”, explica o cientista.

“Podemos mudar a produção de vacinas em todo o mundo. Temos futebol no Brasil, mas também temos muita ciência”, brinca.

O trabalho dos pesquisadores com a sílica começou há mais de dez anos. A ideia inicial era melhorar a resposta à vacina intramusucular.

“Isso é importante porque há indivíduos que são mal respondedores à vacina por razões genéticas ou ambientais. A sílica tem um papel importante nessa melhoria de resposta”, explica Sant’Anna.

Ao notar a “proteção” da sílica ao antígeno, os cientistas resolveram testar a vacina por via oral. Desde então, foram publicados quatro artigos sobre o estudo em revistas científicas internacionais.

As pesquisas tiveram a participação de pesquisadores da USP e apoio da indústria farmacêutica Cristália.

Estima-se que mais de 50% da população mundial já foi contaminada pelo vírus da hepatite B. No Brasil, 15% da população já foi contaminada e 1% é portadora crônica.

O vírus que causa a hepatite B (VHB) é transmitido por sangue. Após a infecção, o vírus concentra-se principalmente nas células do fígado.