Brasil pesquisa vacina contra HPV

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 6 de Junho de 2005

seg, 06/06/2005 - 10h35 | Do Portal do Governo

Butantã trabalha há seis anos no desenvolvimento de um imunizador que combata o vírus responsável pelo câncer do colo do útero

Tânia Rabello

Uma equipe de pesquisadores brasileiros vem trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra o papilomavírus humano (HPV), o responsável direto pelo câncer do colo do útero, o segundo que mais provoca morte de mulheres, atrás apenas do de mama. A Área de Genética do Instituto Butantã, coordenada por Willy Beçak, utiliza, há seis anos, recursos da engenharia genética para criar uma vacina contra as variantes HPV 16 e HPV 18 do vírus.
‘Há mais de cem tipos de papilomavírus que afetam seres humanos, incluindo os que provocam simples verrugas, mas essas duas variantes são as mais freqüentemente associadas ao câncer de colo do útero’, explica Beçak.

Os testes da vacina ainda estão em nível de laboratório, e a previsão é a de que entre cinco e seis anos haja resultados efetivos. ‘Ainda não chegamos aos testes clínicos, em humanos, mas nossos resultados em laboratório têm sido bastante satisfatórios’, diz.

O trabalho no instituto segue duas linhas: a obtenção de uma vacina a partir de partículas similares ao vírus, como explica o pesquisador, e a outra a partir de fragmentos de seu DNA. ‘A primeira linha, a partir de VLP (ou virus like particles, na sigla em inglês), significa que utilizamos os principais componentes do vírus, menos o seu ‘miolo’, que é o DNA’, diz Beçak. Já a segunda linha de pesquisa – que só o Butantã vem desenvolvendo, conforme Beçak – trabalha justamente com o DNA do vírus, utilizando, porém, apenas seus fragmentos.

‘A vantagem de não usar vírus inteiros em nenhum dos dois casos é que estimulamos a resposta imunológica na pessoa sem o risco de ela se contaminar, já que o vírus, incompleto, não tem condições de se multiplicar’, diz o pesquisador. Entre as duas linhas de pesquisa, a que alcançar resultados mais eficientes é a que será utilizada pelo instituto num possível lançamento de uma vacina.

Beçak explica que a pesquisa com VLP já vem sendo tentada por laboratórios em várias partes do mundo. Aplicada em cobaias, a vacina VLP provoca uma reação imunológica, ou seja, a formação direta de anticorpos contra a doença. Já a vacina com fragmentos do DNA, injetada no organismo, faz com que esses fragmentos produzam proteínas e é contra essas proteínas que o sistema imunológico vai gerar anticorpos.

Para ambas as linhas de pesquisa, o objetivo é desenvolver uma vacina preventiva, que seria aplicada em larga escala, em campanhas públicas e em mulheres que ainda não iniciaram sua vida sexual – estima-se que 70% das mulheres sexualmente ativas sejam portadoras dos vírus HPV 16 ou 18 ou os dois, mesmo que eles não se manifestem -, e uma vacina terapêutica, que seria destinada no tratamento de quem já desenvolveu o tumor maligno.

‘Com as vacinas preventivas, obtivemos imunidade em ratos de laboratório’, explica Beçak. ‘Com as terapêuticas, conseguimos regredir o tumor. Só não sabemos ainda se ele poderia voltar ou não, mesmo com a aplicação da vacina.’ Ou seja, ainda não se sabe se será necessário um ‘reforço’ na vacinação, como ocorre com vacinas contra tétano (a cada dez anos) e até contra a gripe, contra a qual o reforço é anual.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, liderado por uma brasileira e patrocinado pela multinacional Merck, também está desenvolvendo uma vacina contra HPV. Eles já divulgaram resultados positivos de testes que mostram eficácia média de 90% contra reinfecções e verrugas provocadas por quatro tipos do vírus (6, 11, 16 e 18).