Brasil e Itália se unem contra o crime

Jornal da Tarde - 7/6/2002

sex, 07/06/2002 - 10h08 | Do Portal do Governo

Um encontro entre as policias da Itália e do Brasil vai discutir o crime organizado e firmar um acordo de colaboração nas investigações criminais entre os dois países. Este acordo prevê, inclusive, a quebra de sigilo bancários de criminosos italianos investigados no Brasil e de brasileiros acusados na Itália

De um lado, um país europeu com experiência no combate a atuação dos mafiosos. Do outro, uma nação de terceiro mundo que tenta impedir o crescimento do crime organizado, que vem se estruturando desde a última década. Juntos, italianos e brasileiros estarão na próxima semana discutindo suas organizações criminosas em um seminário.

Organizado pela Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, o evento vai além do debate teórico: estarão sendo apresentado casos concretos de como a máfia italiana tem suas ramificações no Brasil e de como os criminosos brasileiros atuam na Itália. Será firmado também um tratado internacional de combate ao crime organizado entre os dois países que vai permitir entre outros pontos, a quebra de sigilo bancário de brasileiros e italianos suspeitos de envolvimento com o crime.

‘É ingenuidade ainda acreditarmos que o Brasil é apenas uma passagem para o narcotráfico. O País é consumidor de drogas e tem essa estrutura do narcotráfico montada’, afirmou o secretário estadual da Justiça e Defesa da Cidadania, Alexandre de Moraes, idealizador e organizador do evento.

De acordo com o secretário, o crime organizado na Itália tem semelhança com o do Brasil. ‘Temos a visão romântica da máfia italiana que é vista nos filmes mas ela têm o lado do serviço barato que é essa criminalidade que também existe no Brasil’.

Ele explicou que a máfia italiana segue exatamente a mesma estrutura dos exércitos durante o império romano e seus atuais soldados não diferem muito dos homens que exercem essa atividade no crime organizado brasileiro.

Numa comparação rudimentar, o segundo escalão dos mafiosos italianos poderia ser comparado aos chefes dos morros das favelas cariocas. ‘No caso do Brasil, precisamos chegar as pessoas que estão acima deles no morro porque não são esses chefes que têm acesso a Europa. Precisamos dar um pulo acima deles’. Estudos apontaram que o crime organizado move na Itália U$S 150 bilhões em negócio ao ano e que os mafiosos teriam um patrimônio estimado US$ 1 bilhão.

Experiência com ‘Poderosos Chefões’

Moraes afirmou que a Itália foi escolhida para esse intercâmbio porque é um dos países com mais experiência no combate ao crime organizado no mundo, com sua famosa Operação Mãos Limpas. Em 1991 foram fundadas no país as Procuradorias Antimáfias dos Distritos e a Procuradoria Nacional Antimáfia.

‘Até o que não deu certo, vai servir como experiência porque vai nos mostrar o que devemos descartar’, salientou.

Além da experiência italiana em combater os poderosos chefões, o ordenamento processual italiano em muito se assemelha ao brasileiro que facilitará o intercâmbio. O secretário lembra que a prisão temporária criada em 1989 foi uma inovação vinda da Itália.

Durante o evento denominado Seminário Internacional sobre Segurança e Luta contra o Crime Organizado – que vai durar dois dias – acontecerão reuniões sigilosas entre os italianos e autoridades brasileiras da polícia, Ministério da Justiça, Ministério Público e outros órgãos. Nesses encontros serão debatidos os casos concretos envolvendo a conexão de criminosos entre os dois países.

Ao final do evento, será feito um Tratato Internacional para que os dois países trabalhem em conjunto. Nesse documento, ficará permitido a troca de informações sobre registro de propriedades e de imóveis de pessoas investigadas e de seus parentes nos dois países. Outro ítem será o acesso as informações acionárias das empresas brasileiras e italianas o que vai permitir o rastreamento da lavagem de dinheiro. O tratado permitirá ainda a quebra do sigilo bancário e fiscal de investigados dos dois países.

Além do tratado internacional, sairão também propostas de alteração na nossa legislação que serão encaminhadas ao Ministério da Justiça e levadas ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Os palestrantes italianos serão o procurador nacional Antimáfia, Piero Luigi Vigna, o vice-procurador nacional antimáfia, Giusto Sciacchitano e Renato Perez, representante do Ministério do Interior Italiano na embaixada da Itália em Brasília.

Marici Capitelli