Folha de S.Paulo
Esbaforida, a empregada entrou em casa com a notícia de que o teatro Oficina estava em chamas. Renato Borghi e José Celso Martinez Corrêa só tiveram tempo de vestir os paletós por cima dos pijamas e correram para lá, mas não havia muito mais o que fazer. O teto do teatro desabou em poucos minutos e eles se sentaram perplexos, no meio-fio, sem saber o que fazer. Nem sequer imaginavam o caminho virtuoso que o Oficina iria tomar dali em diante.
Descrição de uma longínqua manhã do ano de 1966, a cena é uma das passagens de “Borghi em Revista”, volume da coleção “Aplauso” dedicado à biografia do ator Renato Borghi que a Imprensa Oficial do Estado lança hoje na 20ª Bienal do Livro. Escrita por Élcio Nogueira Seixas, diretor que acompanha Borghi desde o início dos anos 90, a obra parte das pesquisas empreendidas para criar o roteiro do espetáculo “Borghi em Revista” (2004).
“Na época, grande parte do material recolhido não entrou na peça e pôde ser agora incluído no livro”, diz o ator. Narrado em primeira pessoa e marcado por um tom coloquial, o livro faz um inventário dos 50 anos de carreira de Borghi e perpassa os bastidores do teatro nacional nesse período por meio de relatos e de um alentado conjunto de fotografias.
As companhias da Cinelândia carioca, o esplendor de Cacilda Becker e a revolução provocada pelo surgimento do TBC e do Teatro de Arena em São Paulo são alguns dos episódios evocados para retomar a infância do ator, seus primeiros pendores artísticos até a estréia profissional no teatro, dirigido por Sérgio Cardoso em “Chá e Simpatia” (1958). “Achei que seria muito chato falar só de mim. Essa não é apenas uma biografia, mas o relato de uma época. Retoma a história do teatro e também as mudanças pelas quais o Brasil passou: o “desbunde” dos anos 70, a ditadura e as primeiras dificuldades da abertura política.”
BORGHI EM REVISTA
Autor: Élcio Nogueira Seixas
Editora: Imprensa Oficial do Estado Quanto: R$ 15 (340 págs.) Lançamento: hoje, às 20h, na Bienal do Livro