Bom desempenho em escolas estaduais surpreende

O Estado de S. Paulo - Quinta-feira, 24 de junho de 2004

qui, 24/06/2004 - 9h34 | Do Portal do Governo

Maioria dos alunos acertou mais de 50% de prova aplicada pelo governo, mas resultado é contestado

RENATA CAFARDO

O governo divulgou ontem números surpreendentemente bons sobre o desempenho dos alunos das escolas estaduais no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Em todas as séries, a maioria dos estudantes acertou mais de 50% da prova. As notas da redação também aparecem acima da média. Apesar de enumerar as iniciativas do governo que teriam levado ao resultado, o secretário da Educação, Gabriel Chalita, se disse surpreso. Educadores e entidades questionaram os números.

O Saresp é um exame externo, realizado pela Fundação Carlos Chagas a pedido do governo, que existe desde 1996. Este, no entanto, foi o primeiro ano em que a prova foi realizada com todos os alunos de todas as séries dos ensinos fundamental e médio. Até então, ela era feita por amostragem, em apenas algumas séries. Mais de 4,2 milhões de estudantes – 89,4% do total da rede estadual de ensino – participaram. Foram testadas habilidades de leitura, interpretação de textos e escrita. ‘Foi quebrado o mito de que escola pública é ruim’, disse o governador Geraldo Alckmin, que participou da divulgação dos números. Atrás dele, uma grande placa chamava o Saresp de ‘a maior avaliação de rendimento escolar da história brasileira’.

Alckmin agradeceu aos professores ‘pelo esforço de capacitação’ e mencionou os programas do governo que dão formação aos profissionais por meio de teleconferências ou presencialmente. ‘A realidade que vemos no dia-a-dia da sala de aula é outra’, diz o presidente do Sindicato dos Profissionais do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Carlos Ramiro. Ele fala das condições de trabalho, com altas cargas horárias, de salas superlotadas, de escolas deterioradas. ‘Milagres existem’, ironiza.

Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) divulgou também os resultados de uma avaliação semelhante, feita em todo o País, o Sistema Nacional do Ensino Básico (Saeb). O desempenho médio dos alunos do Estado de São Paulo, apesar de estar entre os melhores, não chega ao nível considerado adequado. ‘Os diretores reclamam muito da dificuldade de aprendizagem’, diz Roberto Leme, presidente do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial (Udemo), que agrega diretores de escolas.

Facilidade – ‘Tenho dúvidas de como esse exame foi feito’, diz o educador da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Artur Costa Neto. Ele questiona a dificuldade das questões. Segundo a secretaria da educação, a prova teve perguntas difíceis, fáceis e médias e utilizou textos de publicidade, de jornais e literários. No ensino médio, só 1% dos alunos errou mais de 80% da prova.

Segundo Chalita, foram feitos esforços principalmente para qualificar os professores que trabalham nas primeiras séries do ensino fundamental. Os resultados do Saresp mostram que 75% das crianças da 1.ª série e 90% das da 2.ª série estão alfabetizadas. Os números contrastam com acusações de que, por causa do sistema de progressão continuada, alunos chegavam à 4.ª série sem saber ler nem escrever. Apesar de não divulgar os desempenhos de cada cidade, o secretário afirmou que os melhores alunos estão nos locais onde as crianças cursam a educação infantil.

Ele pretende conversar com associações ligadas ao ensino superior para que as notas do Saresp possam vir a ser aproveitadas no ingresso em universidades particulares e públicas. Para isso, as escolas municipais e particulares também teriam de aderir ao exame.