Bola, chuteira e nanotecnologia

Diário de S. Paulo

ter, 29/06/2010 - 8h58 | Do Portal do Governo

Há hoje uma discussão sobre a qualidade da bola da Copa do Mundo. Jogadores debatem, goleiros reclamam e “frangos” surgem a cada dia. Mas como uma bola pode ser pior ou melhor que a outra? A Fifa padroniza e controla peso e diâmetro das bolas, o que, à primeira vista, pode parecer garantia de qualidade. Mas não é bem assim.

Mais do que peso e diâmetro, uma bola é diferente da outra por causa da geometria e da aspereza da superfície. Bolas com massa mais distribuída na periferia e mais rugosas fazem mais curvas do que bolas com massa mais próxima do centro e mais lisas. Essas variações, com a pressão atmosférica (em jogos em cidades mais “altas” parecem “mudar de peso”), fazem com que possa ir mais longe ou mais perto com o mesmo chute.

Esses são critérios deixados de lado na “fiscalização” rotineira das bolas. Mas são exatamente estes que tanto podem mudar o caminho a ser percorrido, mudar o tempo de chegada ao destino, alterar a reação de goleiros e zagueiros, trazer uma Copa do Mundo para uma nação.

Quando a bola gira, sua superfície arrasta ar. Como a bola, além de girar, também se desloca em alta velocidade, há um efeito entre o ar arrastado pela rotação com o ar atmosférico que passa pela bola. Peguemos um exemplo: quando o jogador faz a bola girar em torno de si mesma, como um pião, de um lado dela temos a superfície a favor do movimento do chute e de outro lado contra. O resultado é uma diferença de pressão de cada lado da bola, o que resulta que seja empurrada lateralmente para fazer uma curva.

Mas há outro tipo de “efeito”. E quem nos ensinou foi o grande Didi, que desenvolveu a “folha seca”, batizada por Nelson Rodrigues. Ele inventou o giro da bola em torno de um eixo paralelo ao campo. A bola, em vez de girar “para o lado”, passou a girar de cima para baixo. O efeito faz com que a bola “caia no meio do caminho”.

O jogador que mais dominou intuitivamente o conjunto de efeitos foi Pelé, que desafiou a física com sua percepção e habilidade. Por isso ele foi o Rei. Mas hoje, com boa dose de aerodinâmica e nanotecnologia, podermos dar uma mão aos “súditos” brasileiros que tanto nos dão esperança na África do Sul.

João Fernando Gomes de Oliveira é diretor-presidente Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)