Boa notícia na Educação

O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto - 9/6/2003

seg, 09/06/2003 - 9h52 | Do Portal do Governo

Carlos Alberto Di Franco


O Estado de S. Paulo – Espaço Aberto – 9 de junho de 2003

A mídia tem sido acusada de estar dominada pela síndrome da má notícia. Catástrofes e tragédias excitam pautas e ganham o status de manchete de primeira página. Queixam-se os leitores de que, freqüentemente, iniciativas bem-sucedidas têm recebido pouco destaque ou, quando muito, migram para o lusco-fusco das páginas interiores. Essa tendência, no entanto, acaba de ser derrubada pela força de uma boa notícia: o anúncio pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do programa ‘Escola da Família: Espaços da Paz’. A iniciativa, inovadora e interessante, mereceu um editorial do Estado.

No segundo semestre deste ano, as 6 mil escolas públicas estaduais paulistas estarão abertas nos fins de semana e feriados. Uma parceria entre a Secretaria da Educação, a Unesco e um instituto de apoio ao trabalho voluntário permitirá a reunião de alunos e suas famílias nas escolas. Ao anunciar o programa, o governador Geraldo Alckmin lembrou que os índices de violência crescem exatamente nos fins de semana, mas nos bairros onde 600 escolas já permanecem abertas aos sábados e domingos ‘os índices melhoraram bastante’. O governo investirá nesse programa, no próximo semestre, R$ 59,8 milhões.

O projeto ambicioso, mas realizável, mata alguns coelhos com uma cajadada só. Impressionou-me, caro leitor, a simplicidade da arquitetura. O programa está apoiado no trabalho de universitários, voluntários e coordenadores profissionais. O universitário candidato a monitor receberá bolsas de estudo em troca de 16 horas de serviços prestados nas escolas nos fins de semana, mais quatro horas durante a semana. Uma condição essencial para a inscrição é que o candidato tenha cursado o ensino médio na rede pública. A bolsa destina-se ao pagamento da mensalidade escolar do universitário e será de R$ 267. Terão preferência os alunos de renda familiar mais baixa das faculdades credenciadas na Secretaria da Educação. Caso a mensalidade paga pelo aluno seja maior que esse valor, o restante será coberto pela faculdade conveniada. Trata-se de tornar viável o estudo de bons universitários, mas sem recursos. Contribui-se, ao mesmo tempo, para diminuir o diâmetro do buraco da inadimplência que corrói o ensino privado brasileiro. A reação do Sindicato das Mantenedoras do Estado de São Paulo e da Associação Nacional de Faculdades e Institutos Superiores foi sintomática: não pouparam elogios à iniciativa do governo paulista.

O trabalho será desenvolvido por monitores universitários e educadores profissionais em cada escola, para orientar as atividades dos monitores. O orientador será contratado pelas associações de pais e mestres de cada unidade e pago pelo governo. A equipe foi assim pensada para atingir o objetivo central do projeto: promover a integração entre a escola, a comunidade e a família. Pretende-se que a escola deixe de ser um espaço sem alma e se transforme no ponto de convergência de todos os que estão envolvidos no processo educativo.

Os fins de semana da juventude excluída costumam acabar em tristes registros no noticiário policial. O projeto ‘Escola da Família: Espaços da Paz’ pode reverter esse quadro. Aos sábados e domingos, das 9 às 17 horas, os jovens terão acesso a uma programação que inclui esportes, música, teatro, artes plásticas, informática, cinema, biblioteca, etc. Trata-se, estou certo, da melhor estratégia no combate às drogas e aos inúmeros tentáculos do crime.

A desestruturação da família, a exclusão social e a crise da educação, fenômenos perversos que costumam caminhar juntos, estão na raiz do problema da delinqüência. Como salientou Mark Stein, colaborador da revista britânica The Spectador, ‘se a crescente falange de adolescentes assassinos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos’.

E as escolas também não conhecem os seus alunos. Daí as constantes depredações e a transformação dos seus pátios em espaço para o exercício da delinqüência. A integração família-escola e o investimento na auto-estima da juventude são notícias promissoras. Um programa que pretende acabar com a escola sem rosto merece o apoio de todos os que têm uma parcela de responsabilidade na formação da opinião pública.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo para Editores e professor de Ética Jornalística, é representante da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil E-mail: difranco@ceu.org.br