Boa música na Mantiqueira

ValeParaibano - Quinta-feira, 3 de junho de 2004

qui, 03/06/2004 - 8h57 | Do Portal do Governo

Editorial

Boa notícia na Serra da Mantiqueira: o Festival de Inverno de Campos do Jordão está de volta às suas origens.

Volta que começa com um detalhe: a realização de apresentações do Festival no Palácio Boa Vista, a elegante residência de inverno do governo do Estado, encravada no topo de um morro, deixando em destaque o estilo tudor da construção iniciada no governo Adhemar de Barros, nos distantes anos 40. No início do Festival, há quase quatro décadas, todos os eventos eram sediados no Palácio, com seus jardins austeros e sua paisagem exuberante. A volta da música erudita ao Palácio é um sinal: após alguns anos de zigue-zague, Secretaria da Cultura do Estado recolocou o Festival de Inverno nos trilhos.

Que trilhos são estes?

Na origem, o Festival de Inverno servia como difusor, incentivador e gerador de novos talentos na área da música erudita. Na verdade, ele foi criado para ser uma espécie de laboratório sonoro onde era permitido experimentar, testar fórmulas e repetir conceitos como em uma grande escola, que reunia mestres e alunos por algumas semanas de intenso trabalho em Campos do Jordão. Com o tempo, pressionado pelos interesses de mercado dos grandes patrocinadores e por uma interferência agressiva da política nos rumos do eventos, o Festival passou por uma popularização excessiva, abrindo grandes espaços para a MPB e para o jazz, por exemplo. Em resumo, o Festival de Inverno virou show, mais um evento na concorrida temporada da Mantiqueira, enfraquecendo seu caráter didático e de formação. Triste: um dos raros espaços de formação da música erudita do país encolheu de tamanho e importância.

Essa correção de rota parece ter sido entendida pelos patrocinadores atuais, TIM e Sabesp, e foi bem conduzida pela secretária da Cultura, Cláudia Costin Rodrigues, e pelo diretor-artístico do encontro, Roberto Minczuk –ele próprio uma cria do Festival de Inverno, tendo sido bolsista em Campos aos 11 anos, no final da década de 70. Pode até parecer elitista tratar de música erudita em um Brasil de tantos contrastes e carências, mas esse é um falso dilema. Em outras palavras, pura bobagem. Todas as formas de manifestação artística merecem espaço e investimento. Com a volta do Festival de Inverno às suas origens, uma parte importantíssima do universo da música reconquista seu espaço.

Ponto para a cultura.