Biofármaco permite tratamento mais rápido

Folha de São Paulo, 23 de junho de 2008

seg, 23/06/2008 - 15h12 | Do Portal do Governo

Para mostrar como o tratamento com a proteína BMP, que será produzida no Brasil em até cinco anos, é mais rápido pode ser usado um contra-exemplo particular da própria autora do estudo, a pesquisadora da USP Mari Cleide Sogayar. Ela é também coordenadora do Nucel (Núcleo de Terapia Celular e Molecular).

“No ano passado, tive de passar por uma cirurgia para retirar duas hérnias de coluna [no total eram quatro]”, diz a cientista do Nucel.

Mas, como na época o convênio não bancou o uso da proteína BMP, que permite a recuperação óssea, o jeito foi tratar a coluna da forma convencional. “O uso da proteína hoje é caro. Ela é importada e apenas poucas empresas americanas fazem esse produto”.

Um ano depois, a pesquisadora já pode dizer que está praticamente tratada. A cirurgia, no total, custou R$ 116 mil.

“O ortopedista na época gostaria de ter usado a proteína”, diz Sogayar. Se o preço não tivesse compensando, disse o cirurgião, pelo menos a recuperação teria sido bem mais rápida, afirmou ele na época.

“Apesar de ser também invasiva, a aplicação da proteína é bem menos traumática para o organismo”, diz a cientista.

Um dos estudos feito nos Estados Unidos disponível na literatura científica reforça a tese de que o uso da proteína é mais barato e, também, permite uma recuperação mais rápida do paciente tratado.

Num grupo de 25 pessoas, o custo do tratamento por paciente caiu em aproximadamente 50%. Todos eles também deixaram o hospital antes do esperado.

Caso a produção da BMP no Brasil vire mesmo realidade, e os preços desse produto diminuam, ela poderá ser usada em um importante problema de saúde, diz Erik Halcsik, que também participa do trabalho na USP. “A proteína será muito útil para problemas de osteoporose, que tendem a aumentar com o envelhecimento da população”, diz.

Nos Estados Unidos, a doença de perda óssea é o 8º problema de saúde mais importante no país entre as pessoas com mais de 65 anos. “Ela custa aos cofres públicos US$ 19 bilhões por ano”, diz o biomédico.

Halcsik tem o papel de produzir BMPs na forma recombinante e descobrir as bases moleculares da ação dos tipos 2 e 7. “A BMP é fundamental para o processo de desenvolvimento”.

No caso específico da BMP, explica Sogayar, outros usos desta proteína estão sendo estudados pelo próprio Nucel. “Ela tem também papel importante nos rins. Quem sabe não poderá ser usada em lesões do tecido renal.”

Folha de São Paulo