Banda Sinfônica recebe Airto Moreira

Da Folha de S.PauloRadicado há 40 anos nos EUA, onde se consagrou como músico de jazz, o percussionista Airto Moreira toca hoje em São Paulo. É o convidado da Banda Sinfônica do Estado, com regência de Abel Rocha, na estréia da temporada de assinaturas do teatro Cultura Artística. “Não será um concerto tipicamente clássico, até porque eu vou participar”, brinca o catarinense, que antes de deixar o país, em 1967, fez parte do inovador Quarteto Novo, com Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte e Théo de Barros.
Uma das cinco peças escolhidas por Airto para o concerto de hoje é justamente “Coalhada”, de Hermeto, em arranjo de Laércio de Freitas. “É um jazz difícil de ser executado, porque tem muitos compassos diferentes. Vai ser divertido”, promete.
Outro destaque do programa é “Tombo em 7/4”, antiga composição de Airto, que os DJs da dupla alemã Bellini Brothers transformaram em sucesso, no início desta década, com a versão “Samba de Janeiro”.
“Foi uma surpresa incrível, um presente de Deus”, diz o percussionista, que viu sua composição liderar as paradas de sucesso em dezenas de países, especialmente na Europa. Virou até música oficial da Copa do Mundo de 2002.
Airto revela que o título “Tombo em 7/4” vem de uma brincadeira que fazia com os colegas: andavam pela rua seguindo o ritmo incomum dessa música. “As pessoas achavam que éramos malucos.”
Dono de um currículo invejável, que inclui parcerias com os jazzistas Cannonball Adderley, Chick Corea e Wayne Shorter, Moreira tem histórias curiosas para contar. Um personagem freqüente é o trompetista Miles Davis, com quem tocou no final dos anos 60.
“Ele adorava perturbar os outros, gostava de se meter na vida particular dos músicos. Falava até das nossas roupas e cabelos. O [saxofonista] Steve Grossman ficou tão perturbado que até saiu da banda”, relembra o percussionista. Na abertura do concerto, a peça “Frevo Rasgado” vai marcar a estréia do pianista André Mehmari como compositor residente da Banda Sinfônica.