Bancos de leite são garantia de saúde aos bebês

Agora - Domingo, 23 de novembro de 2003

ter, 25/11/2003 - 10h34 | Do Portal do Governo

11 unidades da Capital oferecem às mães dicas para amamentação e recolhem leite excedente para distribuir entre os bebês doentes

Fábio Grellet

Eles são pouco divulgados, mas decisivos quando um bebê está na UTI, entre a vida e a morte. O Vigilante Agora visitou, na última semana, dez dos 11 bancos de leite instalados em hospitais públicos de São Paulo.

Com equipamentos modernos, instalaçõs que muitas vezes não lembram um hospital e procedimentos rígidos e padronizados, eles garantem a qualidade do leite. O modelo brasileiro já se tornou até exemplo para o mundo, sendo copiado por países europeus.

‘Funciona direitinho’, aprova a dona-de-casa Cássia Viegas, 19 anos, mãe de Fernanda, 1 mês, nascida no hospital Vila Nova Cachoeiriha (zona norte da capital).

Os bancos têm duas fontes de leite: as mães cujos filhos estão internados no hospital – que costumam doar o excedente, quando há – e as mães de bebês saudáveis que têm excesso de leite e se dispõem a doar. Além de não estar doente no dia da coleta, nunca ter contraído sífilis, hepatite ou Aids, a mãe, para se tornar uma doadora tem de ter leite em excesso. ‘Se o leite só for suficiente para o próprio filho, a doação não pode ser feita’, explica Cheung Russo, médica neonatologista e coordenadora do banco de leite do hospital Fernando Pires da Rocha, no Campo Limpo (zona sul).

O maior benefício do leite materno é aumentar a resistência do bebê a doenças. Por isso, é fundamental para bebês prematuros, que tenham nascido com menos de 1,5 kg – porque têm baixa imunidade – ou que já contraíram alguma infecção – porque ajuda a combatê-la.

Falta de divulgação

Talvez no caminho do sucesso total dos bancos de leite esteja, apenas, a falta de divulgação. Poucas pessoas conhecem o trabalho desses órgãos, e muitas mulheres não doam porque não sabem como proceder. Por isso, a
quantidade de leite costuma ser suficiente apenas para os bebês submetidos à terapia intensiva ou semi-intensiva.

Os hospitais informam que, quando há verba, promovem campanhas, mas a própria filosofia dos bancos de leite não é priorizar a arrecadação, como nos bancos de sangue.

‘Nossa tarefa é convencer as mães sobre a importância de amamentar. Muitas, vezes, poucas semanas depois do parto, as mulheres já pararam de dar leite materno ao filho – em geral, porque voltaram ao trabalho. Sem estímulo, a produção de leite pára’, diz Luciana Castelo Branco, diretora do banco de leite do hospital Interlagos (zona sul).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o ideal é que, até os seis meses, o bebê só consuma leite humano. Depois podem ser incluídos outros alimentos, mas a amamentação deve continuar até os dois anos.

Mãe adotiva pode amamentar também

Qualquer mulher pode produzir leite, mesmo sem ter ficado grávida. Bastam estímulos para que as glândulas mamárias comecem a funcionar, explicam os médicos.

‘A mulher que adota um bebê pode, sim amamentá-lo’, conta Rosamara Ribeiro, médica responsável pelo ambulatório de pediatria do hospital Interlagos.

No início, o bebê usa uma sonda, instalada sobre a mama da mulher, para absorver o leite – industrializado. Conforme a mama vai sendo estimulada pelo bebê, em alguns dias passa a produzir leite, que substitui o produto industrializado. Essas e outras orientações sobre amamentação podem ser obtidas em qualquer banco de leite.

A vantagem do leite humano é que não contém nenhuma substância estranha ao organismo do bebê. O leite industrializado e o de outros animais contêm substâncias que podem causar infecções intestinais, capazes até de matar, porque o bebê ainda não tem imunidade.

Antes, dona de casa jogava o leite fora

Há um mês, no hospital de Vila Penteado (zona norte), a dona-de-casa Jeisiane Santana Leal, 21 anos, deu à luz Maria Eduarda. Com problemas de saúde, o bebê precisou fazer uma transfusão de sangue e estava internado até a última quarta-feira. Jeisiane passou os dias no hospital. ‘No começo, não conhecia o banco de leite e acabei jogando pelo ralo o excesso que produzia’, diz.

Quando contou isso a uma enfermeira, Jeisiane foi orientada a ceder o leite ao banco. ‘Fico satisfeita, porque assim estou ajudando outras crianças também. E o serviço é muito bom, recebi as orientações direitinho’, comenta. Os funcionários dizem que as doadoras que têm filhos internados são, em geral, de classes mais baixas, mas aquelas cujos filhos estão fora do hospital costumam ser de classes mais altas. ‘As mulheres mais pobres precisam voltar logo ao trabalho, por isso não têm tanta disponibilidade para doar’, explica a pediatra Rosângela dos Santos, do hospital Regional Sul.