Baixo peso ao nascer aumenta risco de ter ovários policísticos

Folha de S. Paulo

seg, 04/01/2010 - 8h25 | Do Portal do Governo

Problema impede a ovulação e atinge 10% das mulheres em idade fértil; principais sintomas são acne, ganho de peso, aumento de pelos e infertilidade

Mulheres que nasceram prematuras ou pequenas para a idade gestacional têm mais que o dobro de risco de desenvolver síndrome dos ovários policísticos na idade adulta, concluiu um estudo da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.

A síndrome se caracteriza pelo aumento da produção de hormônios andrógenos (testosterona, principalmente) e costuma manifestar-se na adolescência. Os principais sintomas são acne, ganho de peso, aumento da quantidade de pelos e infertilidade. Estima-se que 10% das mulheres em idade fértil tenham o problema.

A pesquisa foi feita pelo ginecologista Anderson Sanches de Melo, do setor de Reprodução Humana do HC da cidade, com base em dados de um estudo realizado há 30 anos pelo pediatra e epidemiologista Marco Antônio Barbieri, com crianças nascidas em Ribeirão Preto.

Melo convocou 180 mulheres nascidas entre 1978 e 1979 -60 que nasceram pequenas e 120 nascidas com o tamanho adequado-, que passaram por análise clínica e realizaram exames de sangue e ultrassom.

Os resultados mostraram que 32% das que nasceram pequenas para a idade gestacional tinham a síndrome, contra apenas 13,8% das demais.

Segundo Melo, uma das hipóteses para essa relação é a “reprogramação fetal”, que ocorre quando o bebê com baixo peso faz um “esforço” para se adaptar ao útero e não morrer. “Isso estimula a glândula suprarrenal a aumentar a produção de glicocorticoides, o que, no futuro, parece influenciar na produção dos hormônios endógenos (como testosterona), provocando os sintomas da síndrome”, explica.

Para Barbieri, a vantagem desse estudo é tentar tratar mais cedo o problema em meninas que nasceram com baixo peso. “Geralmente há um atraso no diagnóstico porque muitas mulheres começam a tomar pílula muito novas e isso diminui os sintomas”, diz.

A ginecologista Cristina Laguna Benetti Pinto, professora da Universidade Estadual de Campinas e orientadora de estudos sobre o tema, considera os resultados muito interessantes. “Prematuridade e baixo peso são fatores de risco para a síndrome e a hipótese é esta: uma vez estimulada, a suprarrenal alteraria o sistema hormonal como um todo.”

O ginecologista Carlos Petta, especialista em reprodução humana, diz que a síndrome é uma doença sistêmica e crônica, em que a paciente pode apresentar resistência à insulina e distúrbios metabólicos.

“Esse trabalho traz resultados que parecem interessantes, mas é difícil dizer se a conclusão é real, pois a amostragem parece pequena.”