Bacharelado em viola caipira na USP

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 13 de agosto de 2004

sex, 13/08/2004 - 10h29 | Do Portal do Governo

O curso, 1º do gênero no País, será dado no campus de Ribeirão Preto já em 2005 – o vestibular é no fim do ano

Marici Capitelli

Aquelas rodas alegres e informais de viola que acontecem no interior de todo o Brasil conquistaram o mundo acadêmico. A USP de Ribeirão Preto acaba de criar o bacharelado em viola caipira. É o primeiro do gênero no País. Os interessados já podem optar pelo novo curso no vestibular que acontece no final do ano.

O bacharelado em instrumentos musicais, que engloba piano, violino, violoncelo e, agora, viola caipira, conta com 30 vagas. O número de cadeiras destinadas ao novo curso vai depender da quantidade de alunos aprovados no exame – que inclui prova de aptidão.

“O estudante não vai ficar só tocando viola. Ele sairá da faculdade um profissional completo em música”, disse Rubens Ricciardi, coordenador do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) em Ribeirão Preto.

Para ele, o novo curso permitirá que a universidade cumpra seu papel de resgatar aspectos históricos e culturais do País. A viola, com suas cinco cordas duplas, tem uma longa história no Brasil.

O instrumento foi criado há aproximadamente 750 anos, em Portugal. Chegou ao País com os colonizadores e conquistou os brasileiros. Foi usada até pelos jesuítas na catequização dos índios.

Segundo o professor Ivan Vilela, que dará o curso em Ribeirão, com o tempo, os violeiros ganharam prestígio e até uma “aura mística”. “Eles transitavam entre o sagrado e o profano com muita desenvoltura.” Entretanto, mais tarde, a viola acabou sendo estigmatizada pela cultura urbana, conta Vilela.

Um movimento iniciado há 10 anos por alguns músicos – incluindo o professor – tenta resgatar a tradição da viola não só como parte de uma cultura caipira e folclórica, mas como integrante da música instrumental brasileira.

“Não estamos falando de evolução da viola, porque a tradição caipira é riquíssima, mas de uma nova utilização”, diz Vilela. De acordo com ele, existem no Interior do Estado cerca de 15 orquestras de viola, com integrantes de todas as idades. No grupo de Campinas, por exemplo, o músico mais novo tem 13 anos e o mais velho, 77. “O nível social dos integrantes também varia muito. Vai do semi-analfabeto ao doutorado no exterior.”

Vilela afirmou que os interessados no novo curso devem estudar muito para o vestibular. Antigamente, os violeiros faziam simpatias para aprender a tocar o instrumento e melhorar a performance. Eles até colocavam guiso de cascavel no bojo do instrumento para melhorar o som. O manual da Fuvest já está à venda (informações pelo tel. 11-3093-2300 ou no site www.fuvest.br).