Serviço de amparo às crianças hemofílicas é mantido com esforços voluntários da comunidade acadêmica da instituição
Rogério Verzignasse
Da Agência Anhangüera
rogerio@rac.com.br
O Centro de Hematologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acaba de ser premiado na Austrália pela assistência inovadora a crianças hemofílicas e suas famílias. O cheque de US$ 12 mil coroou aquele que foi apontado como o melhor projeto social apresentado, há três meses, no Congresso Internacional de Hemostasia e Trombose, organizado na cidade de Sydney. O concurso teve como objetivo o reconhecimento de idéias simples, mas com grandes resultados.
Os pequenos pacientes recebem reforço escolar uma vez por semana. As aulas de matemática e de português são intercaladas com atividades lúdicas. Com essa medida simples, o corpo médico do Hemocentro conseguiu constatar um notável aumento da auto-estima de crianças que, até então, perdiam muitas aulas e tinham vergonha de conviver com os coleguinhas da escola.
O doente de hemofilia porta uma deficiência genética que impede a coagulação do sangue. Uma simples torção pode romper artérias ou veias. O sangramento interno é percebido quando o órgão afetado começa a inchar. Neste momento, a criança é obrigada a procurar atendimento dos centros de hemodiálise e a comparecer para retornos ambulatoriais. Houve caso registrado pela Unicamp em que uma única criança perdeu 40% do ano letivo.
Enquanto as crianças se divertem nas atividades lúdicas e educativas no Hemocentro, as mães participam de uma oficina de bordado. “Aqui, a gente procura demonstrar ao paciente que é possível conviver com a hemofilia”, disse Rosalva Roveri, psicóloga e uma das coordenadoras do serviço. “A doença não pode ser encarada como um obstáculo intransponível.”
O detalhe interessante é que o amparo a pacientes e mães é protagonizado por voluntários. Gente como a fisioterapeuta Simone Andery. Por falta de espaço, a própria sala de fisioterapia é ocupada, uma vez por semana, para as atividades lúdicas.
A comunidade universitária tem colaborado com o sucesso do programa. O dinheiro arrecadado, colhido entre os próprios servidores, é investido na compra de jogos e material pedagógico (como livros, lápis, caneta e caderno).
Houve até paciente bastante carente que não vinha às atividades porque faltava dinheiro para pagar o ônibus. A colaboração comunitária também assegurou o custeio das passagens. O sucesso do projeto é atestado pelos números. No lançamento do programa, há três anos, havia 12 crianças inscritas. A idéia é dobrar o número de pequeninos atendidos e ampliar o serviço aos adultos. E tem mais. “Já estão sendo selecionadas crianças para o grupo que vai funcionar no hemonúcleo de Taubaté, mantido pela Unicamp”, diz a médica Margareth Ozello, idealizadora do projeto que esteve na Austrália para receber o prêmio.
A FRASE
“Como a Unicamp é uma universidade-escola, os profissionais estão aqui de passagem. Para colocar em prática um serviço como o amparo aos pequenos hemofílicos, a gente conta com pessoas que trabalham por idealismo. O voluntariado é o remédio contra a falta de recursos e a limitação das dependências.”, ROSALVA ROVERI, Psicóloga do Hemocentro.