Aula de psicologia propõe reflexão no Ensino Médio

Jornal da Tarde - Sábado, dia 20 de janeiro de 2007

sáb, 20/01/2007 - 11h06 | Do Portal do Governo

Jornal da Tarde

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

É difícil imaginar que um adolescente consiga passar um dia inteiro cuidando de um ovo de galinha, levando-o da escola para o trabalho, do trabalho para casa, da casa para a “balada” sem o deixar quebrar. Mas os alunos da Escola Estadual Ruy Bloem, Zona Sul, não só fizeram isso como aproveitaram a atividade para refletir sobre a gravidez na adolescência. Como eles mesmo disseram à reportagem do JT, “se já foi difícil cuidar do ovo, imagine como seria cuidar de um bebê”.

Essa é apenas uma das atividades que são desenvolvidas nas aulas de psicologia do 3º ano do Ensino Médio da Ruy Bloem, dadas pela professora Marisa Feffermann, doutora em psicologia escolar pela Universidade de São Paulo e membro do Instituto de Saúde de São Paulo.

Na sala de aula

Muitos não sabem que, além de filosofia ou sociologia, as escolas estaduais podem optar por inserir a psicologia na grade curricular dos alunos do 3º ano de Ensino Médio. É neste contexto que a professora Marisa ressalta que a Psicologia é de suma importância para a formação humana dos alunos. “No começo eles estranham minhas aulas por não terem abertura para o diálogo em casa, mas logo se envolvem.”

Como estratégia para a “quebra de gelo” inicial, Marisa sempre pede para que seus alunos escrevam um livro da vida, com o objetivo de representarem sua identidade por meio de textos, fotos da família e até da criação de logotipo pessoal. “Aos poucos eles passam a refletir sobre o que realmente querem da vida, e automaticamente se conhecem melhor. Vale ressaltar que o diálogo reduz a violência”, ressalta.

Os alunos

Para Camila Pimenta, 17 anos, que acaba de terminar o Ensino Médio da EE Ruy Bloem, as aulas de psicologia mudaram sua visão de mundo. “É um momento que a gente discute sobre a vida, ouve o outro e conversa sobre assuntos que dificilmente teríamos abertura para falar em casa.”

Como é o caso da pesquisa que a aluna realizou com ex-presidiários, considerada por ela sua grande lição de vida. “Ao discutir com os colegas, vi que muitas pessoas tinham preconceito dos ex-presidiários. Então, decidi conversar com alguns deles para ver como tinha sido a volta às ruas.”

Segundo Camila, a dificuldade em conseguir contato com o grupo fez com ela se dedicasse mais a esse projeto. “Liguei para ONGs, consegui contatos, mas eles temiam a entrevista. No entanto, em vez de desistir, continuei insistindo.”

Até sua mãe teve receio do envolvimento com a pesquisa. “Venci os desafios em casa e consegui conversar por mais de uma hora ao telefone com um ex-presidiário e vi como é difícil ficar marcado por um erro cometido no passado.”

Após a entrevista, a aluna e mais um grupo de colegas prepararam uma apresentação sobre o tema. “Foi bom discutir com a classe, mas também foi difícil ver que ainda há muita gente que julga as pessoas sem ao menos conhecer sua história de vida. ”

Assim como a experiência de Camila, outros alunos do 3ª ano da EE Ruy Bloem também desenvolveram projetos sobre preconceito, sexualidade, entre outros temas ao longo de 2006 . “Saímos do Ensino Médio mais preparados para a vida”, avalia Camila.