Ateliê no centro acolhe artistas plásticos

Folha de S. Paulo - São Paulo - Sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

sex, 21/01/2005 - 9h38 | Do Portal do Governo

Sobrado alugado pelo governo do Estado de São Paulo receberá dez profissionais sob curadoria de Maria Bonomi

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

Olhar o centro de São Paulo por meio do olhar do artista. Neste exercício de contemplação surge uma releitura plástica e poética de uma região que luta para escapar do estigma da degradação. Com esse desafio nasce no largo General Osório uma oficina de criação que servirá de morada artística para profissionais das belas-artes.

Construído no quadrilátero da ‘cracolândia’ – área conhecida como ponto de consumo de crack -, o prédio do Ateliê Amarelo, alugado pelo Governo do Estado, será ocupado durante um ano por dez artistas, com curadoria de Maria Bonomi e uma comissão da qual participarão mais dois artistas, um crítico de arte e um professor de arte pública – os nomes ainda serão definidos.

‘[O Ateliê Amarelo] vai corresponder a uma seleção de artistas que se proponham a, por um ano, trabalhar o entorno [do centro de São Paulo], do ponto de vista urbano, figurativo e poético’, explica Maria Bonomi.
Das dez vagas, metade será ocupada por profissionais residentes na capital e a outra parte por moradores do interior de São Paulo. As regras e critérios para participar da seleção constarão de um edital publicado no dia 25 de fevereiro no ‘Diário Oficial’ do Estado. O resultado será divulgado no dia 25 de março.

‘Não vai ter uma questão de idade. Vamos buscar corresponder uma necessidade de intercâmbio, para que pessoas isoladas tenham essa vantagem do convívio. Elas precisam dessa contaminação’, diz a artista plástica.

De acordo com Bonomi, os curadores vão analisar a qualificação, a competência e o interesse dos candidatos. ‘Haverá perguntas para sintonizar com a alma do artista, da pessoa que se propõe a ocupar o espaço e as razões mais profundas dele, do fazer arte. [A experiência de ocupar o ateliê] Tem de ser algo necessário, vital neste tipo de percurso’, afirma.

Se há uma diretriz neste livre processo é a necessidade de trabalhar com o tema proposto: refletir sobre o centro da cidade.

‘É um modelo de outras cidades. Visa a integração do artista ao centro, à poética da cidade e ao mesmo tempo do público com o artista’, resume Bonomi, que, quando foi premiada na Bienal de Paris, em 1967, ganhou do governo francês a chance de usar um dos ateliês da Cité des Arts.

Convívio

Instalado no número 35 do largo General Osório, em frente ao Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, o Ateliê Amarelo será um espaço livre, aberto à visitação.

‘As pessoas podem seguir o trabalho dos artistas. Será uma oportunidade para o público ter acesso ao processo criativo’, diz.

A produção artística não se limitará às quatro paredes do sobrado amarelo. A praça General Osório servirá como extensão do do ateliê. A primeira alteração, já aprovada pela subprefeitura da Sé, é a remoção das grades que isolam a praça.

Lançar um novo olhar sobre a região e impulsionar o encontro não são os únicos intentos do projeto. Com o novo uso do sobrado de 1943, a Secretaria de Estado da Cultura visa desfazer a imagem negativa da região e dar continuidade ao processo de intervenção urbana e revitalização do centro.

‘Além de pintarem o que vêem, os artistas vão circular no centro, mudando a freqüência. Com isso consegue-se um efeito de ‘contaminação’ do entorno’, diz a secretária Cláudia Costin.