Arte muda realidade de escola da Zona Norte

Jornal da Tarde - Sábado, dia 23 de setembro de 2006

sáb, 23/09/2006 - 10h51 | Do Portal do Governo

MARIA REHDER, maria.rehder@grupoestado.com.br

Em vez de lousa, giz , lápis e caderno, os alunos da Escola Estadual Tarcísio Álvares Lobo, Zona Norte, fazem uso do próprio corpo e de materiais simples como fio de lã e balas de chocolate para aprender a história da arte por meio da expressão corporal e dos jogos lúdicos.

Esses são alguns dos segredos do sucesso das aulas do professor Pio Santana, que, em 1999, decidiu migrar do seu ateliê de pintura para a rede pública de ensino. “Vi que era o momento de atuar na área da educação, pois queria fazer com que os alunos, principalmente de regiões periféricas, não só aprendessem arte, mas pudessem vivenciá-la.”

O professor conta que a mudança de área não foi tão fácil. “Desde 1999, dedico todos os meus sábados para trocar experiências com outros educadores, pois pude ver que o conhecimento integral do assunto não era suficiente para que o professor desse uma boa aula. Era preciso planejamento.”

A criatividade é característica marcante deste professor, que faz com que a participação ativa de seus alunos chame a atenção de toda a escola. Como exemplo, Pio Santana cita as atividades de performance, que têm o objetivo de fazer com que os alunos vivenciem a leitura de uma obra de arte ou representem um período da história por meio da expressão corporal. “Levo as minhas turmas para o pátio para que todos apreciem seus trabalhos. Fico feliz em ver que eles realmente têm assimilado os conceitos com facilidade.”

É o que confirma Davi Rosa de Brito, aluno do 3º ano do Ensino Fundamental. “A aula do professor Pio é muito animada. Outro dia aprendi a diferença entre arte abstrata e arte concreta jogando dama. Ele criou umas peças que representavam cada estilo de arte. Com o jogo, a gente conseguiu entender com facilidade, foi legal.”

Davi, que durante o dia faz bicos como auxiliar geral, destaca que as aulas de arte são relaxantes. “Em todas as aulas ele nos delega a tarefa de escolher um CD a ser tocado em classe, mesmo com gostos musicais diferentes, todos acabam se entendo. O professor é muito extrovertido, ele participa das atividades.”

Gestão participativa

Pio destaca que seu trabalho só é possível por causa da abertura da equipe pedagógica da escola. “O diretor faz questão que os professores saiam da sala de aula, usem de forma criativa todos os espaços.Nossa próxima atividade será um estúdio fotográfico com máquinas de latinha, o qual estará aberto para toda a comunidade.”

Segundo Wilson Almeida Amaral, diretor da Escola Estadual Tarcísio Álvares Lobo, o incentivo ao trabalho artístico e cultural foi uma estratégia que levou a escola a reduzir em 12% os índices de retenção de alunos e chegar a evasão nula nos períodos da manhã e da tarde. “Assumi o cargo há 5 anos, tínhamos problemas de indisciplina, o espaço físico da escola estava ‘minguando’. Hoje, tudo mudou”, afirma.

O diretor destaca que a liberdade de criação aos professores foi fundamental para que a comunidade criasse um vínculo com a escola, o que levou a melhora de desempenho dos alunos e fez com que seus familiares participassem do projeto pedagógico. “Os resultados têm sido ótimos, o trabalho do professor Pio Santana é um bom exemplo pois, além de ensinar arte, desinibe os alunos.”