Arte abstrata espanhola desembarca na Estação

Folha de S.Paulo - Terça-feira, 25 de março de 2008

ter, 25/03/2008 - 12h58 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Após os anos 50, o domínio de Nova York como capital das artes no Ocidente e do expressionismo abstrato de Jackson Pollock como principal vertente do novo império, a produção de muitos artistas que também seguiram a abstração ficou em segundo plano.

A obra do espanhol Pablo Palazuelo (1915-2007) está entre aquelas que, somente nos últimos anos, ao ser revista em profundidade, revelou um dos mais originais artistas da abstração. Isso ocorreu graças a “Palazuelo – Processo de Trabalho”, mostra com cerca de 160 obras, organizada no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (Macba), há dois anos. Ainda na Espanha, passou por Bilbao, depois Bogotá, na Colômbia, e chega hoje à Estação Pinacoteca, em SP.

“Não é uma retrospectiva exaustiva e completa, mas uma seleção de obras que marcam sua evolução, o que até na Espanha provocou surpresas”, conta Teresa Grandas, curadora do Macba e responsável pela exposição, ao lado de Manuel Borja J. Villel, atual diretor do Museu Reina Sofia, em Madri.

Com formação em arquitetura, Palazuelo iniciou sua produção nos anos 40. Graças a uma bolsa do governo francês, ele passou a viver em Paris, até os anos 60. “Era um período de ditadura na Espanha, e, graças a essa bolsa, ele participou de importantes exposições da arte abstrata”, conta a curadora.

Para alguns artistas brasileiros, como Hélio Oiticica, o uso de figuras geométricas era usado como uma forma de tensionar o espaço plano, o que levou a sua produção à tridimensionalidade. Palazuelo, ao contrário, realiza uma produção escultural limitada, pois se concentra no desenho e na pintura como suas principais formas de criação até outubro do ano passado, quando morre. “Ele trabalhou de uma forma muito individual, mesmo observando em sua obra princípios do cinetismo, ela tampouco é cinética. O que se mantém sempre é de seu trabalho ser um espaço de tensão”, afirma Grandas.

Visões aéreas

Esse “espaço de tensão” pode ser visto nas pinturas da década de 1950, que parecem visões aéreas tomadas de um avião -não por acaso, Palazuelo foi piloto; nas obras da década de 1960, como “Mandala” ou “Cadmio”, pinturas em grande formato com figuras biomórficas; ou então nos trabalhos dos anos 1970 e 1980 que se inspiram em partituras musicais.

Outro elemento que é importante em sua obra, segundo a curadora, e que dá até o nome à exposição, é o aspecto processual de seu trabalho, que é sempre revelado. Para Grandas, “especialmente em suas obras dos anos 1950 e 1960, é possível visualizar como os limites entre as formas são borrados, dando a impressão de que seu trabalho nunca é finalizado”.

Palazuelo foi um estudioso de religiões orientais, o que também influenciou sua obra, provocando certo preconceito em relação a ela. “O que percebemos é que lhe interessava de fato a mística, mas para ser abordada em um viés racional”, defende a curadora.

PALAZUELO – PROCESSO DE TRABALHO

Onde: Estação Pinacoteca (Largo General Osório, 66, São Paulo; tel. 0/xx/11 3337-0185)

Quando: abertura, hoje, 19h30; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 25/5.

Quanto: R$ 4; grátis aos sábados