Área verde do Parque Villa-Lobos vai dobrar

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 8 de março de 2004

seg, 08/03/2004 - 9h32 | Do Portal do Governo

Iniciativa do Estado, com apoio de empresas, vai plantar 10 mil novas mudas no local

PAULA PEREIRA

A falta de verde no Parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, sempre foi uma das maiores queixas dos freqüentadores. ‘Venho aqui há três meses, para ler ou estudar, mas não encontro uma sombrinha’, diz a advogada Márcia Logulo, de 50 anos. ‘Há os quiosques, mas estão com o piso alagado por causa da chuva.’ Conhecido pelo excesso de concreto, o parque do Alto de Pinheiros deve mudar de face nos próximos meses.

Graças a uma parceria da Secretaria Estadual do Meio Ambiente com a iniciativa privada, anunciada ontem, a cobertura verde do Villa-Lobos vai quase que dobrar, recebendo 10 mil novas mudas – até hoje, segundo os registros da administração, foram plantadas 12 mil. Ainda estão previstas melhorias nos equipamentos, banheiros e bebedouros, reforma nas jardineiras, obras de drenagem e instalação de novos jardins.

O parque receberá inicialmente uma injeção de R$ 1,8 milhão, dos quais R$ 800 mil serão financiados pela Companhia de Gás de São Paulo (Comgás) e o restante, pelo governo do Estado. A Cooperativa Agropecuária Holambra contribuirá com a recuperação das 77 floreiras. Outros convênios estão sendo articulados com a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), que investirá em melhorias, em troca da cessão de uma área do Estado contígua ao parque para a construção de uma estação da Linha 4.

‘Queremos que as empresas parceiras contribuam com serviços e equipamentos e não com dinheiro, para evitar a burocracia estatal’, disse o secretário do Meio Ambiente, José Goldemberg. De outra forma, a verba estaria sujeita a análises de gasto da secretaria.

Segundo Goldemberg, os Parques do Jaraguá e Ecológico do Tietê também receberão investimentos. Dos 92 parques estaduais de São Paulo, dez encontram-se na região metropolitana. Por ter um perfil urbano de lazer e não de conservação, como os demais, até meados de janeiro o Villa-Lobos estava sob a jurisdição da pasta da Juventude. Antes disso, passou pelas Secretarias de Recursos Hídricos e de Turismo.

Na primeira fase do projeto no local, serão recuperados equipamentos, bebedouros e floreiras e plantadas 10 mil mudas. Na segunda, ainda sem prazo definido, a secretaria pretende encontrar parceiros para realizar obras de drenagem no terreno, novos jardins e plantio de mais 15 mil mudas numa área de 300 mil metros quadrados hoje fechada ao público. ‘Queremos fazer um cordão de espécies frutíferas ao redor dos bosques existentes, a exemplo do que já fazemos no Projeto Pomar’, explicou o arquiteto e paisagista Arnaldo Rentes, um dos coordenadores da iniciativa e do Pomar – uma iniciativa do Jornal da Tarde, em parceria com as Secretarias Estadual de Meio Ambiente e Municipal de Subprefeituras. No futuro, a direção do Villa-Lobos pretende plantar árvores também nos 60 mil metros quadrados de barrancos ao redor de sua área.

Queixas – Mas os problemas do Villa-Lobos não se limitam ao verde. O parque ocupa um terreno aplainado inadequadamente, com solo argiloso, onde também já funcionou um aterro, e começou polêmico. Em 1988, o governador Orestes Quércia desapropriou os 717 mil metros quadrados de uma gleba, pertencente ao empresário Antonio João Abdalla Filho, seu amigo, por US$ 155 milhões.

A quantia foi contestada por ser muito alta e, somente em 2001, o governo fechou acordo para o pagamento de R$ 257 milhões – em prestações ainda não quitadas. O parque foi inaugurado inacabado, em 1994. Muito pouco do projeto original do arquiteto Décio Tozzi, que pretendia fazer uma ‘cidade da música’ em homenagem ao compositor Villa-Lobos, foi de fato entregue.

Hoje, dez anos depois, ‘esqueletos’ de concreto espalhados aqui e ali e uma pista de corrida interrompida no meio do percurso são vestígios desse início conturbado. ‘Decidimos investir no verde, porque concluir as obras previstas custaria cerca de R$ 50 milhões ao Estado, dinheiro não disponível no momento’, diz Helena Carrascosa, diretora do Departamento de Projetos da Paisagem da secretaria. Outra polêmica recente envolveu os moradores do bairro City Boaçava, na frente do parque. Eles entraram na Justiça contra a secretaria e conseguiram uma liminar para impedir a realização de eventos que atraiam grande número de pessoas ao Villa-Lobos.