Após obra, Sérgio Cardoso é reaberto

Folha de S. Paulo - São Paulo - Quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

qua, 19/01/2005 - 9h56 | Do Portal do Governo

Reforma incluiu instalação de ar-condicionado e informatização da bilheteria

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

As pausas nas sinfonias executadas no teatro Sérgio Cardoso não serão mais ‘sonorizadas’ pelo ruído dos ventiladores. Os aparelhos foram substituídos por um sistema de ar-condicionado como parte de uma obra para ‘colocar em ordem’ o teatro da Bela Vista.

Orçada em R$ 750 mil, a reforma inclui alterações na fachada do teatro, manutenção dos palcos e elevadores e a modernização das bilheterias. No lugar dos antigos bloquinhos de papel, os guichês terão agora um sistema informatizado para venda de convites.

‘Sempre me chocou muito ver prédios públicos degradados, porque o que dá prestígio, infelizmente, é inaugurar. Depois, o que acaba acontecendo, dada a escassez de verbas e até o descaso da população com os prédios públicos, a coisa vai se degradando’, disse à Folha a secretária de Estado da Cultura, Cláudia Costin.

Custeada pelo governo de São Paulo, parte dos materiais usados na reforma do teatro, como as placas da marquise e os tapetes dos elevadores, vieram de empresas que têm dívida com o Estado. A transação, chamada de adjudicação, permite que o contribuinte pague com produtos parte da dívida com o Estado.

‘Não temos um dinheirão e não é o caso de fazer uma obra gigante, mas colocar em ordem’, disse.

Residência de duas das três orquestras profissionais do Estado de São Paulo, a Banda Sinfônica e a Jazz Sinfônica (a Osesp fica na Sala São Paulo), o Sérgio Cardoso poderá oferecer agora, de acordo com a secretária, melhores condições de trabalho aos músicos.

‘As duas [orquestras] começaram a tocar, inclusive com programa de assinatura, e um ventilador atrapalhando, competindo com a música’, contou Costin. ‘E me lembro de uma vez que eu cheguei ao ensaio e eles estavam com os uniformes molhados.’

Ventilação

Além do ar-condicionado nas salas Sérgio Cardoso e Paschoal Carlos Magno, os camarins terão um sistema de ventilação renovado. Na fachada, a alteração consiste na troca de uma armação de madeira da marquise por uma mais leve de metal e das placas azuis de nylon por uma cobertura transparente de policarbonato.

Evitando o termo reinauguração, a secretária visitará hoje o teatro para ver ‘os detalhes’. ‘O nosso tom não é inaugurar de novo, é justamente o contrário, é você garantir que esteja nas melhores condições para o usuário’, disse. ‘A idéia é fazer uma coisa ‘low-profile’ e de alguma maneira dizer: ‘Venha que vocês vão encontrar tudo em ordem’.’

Programação

A sala Paschoal Carlos Magno será a primeira a ‘testar’ as mudanças com a estréia, dia 21, de ‘Vidamorte’, dirigida por Lourival Reis. As apresentações na sala Sérgio Cardoso, com início após o Carnaval, serão definidas no fim de semana. Segundo Vicente Amato Filho, diretor da organização social que administra o teatro, há uma negociação com o grupo Tapa para a exibição de ‘A Mandrágora’. E, em março, recomeçam os concertos da Banda Sinfônica e da Jazz Sinfônica.


Demolido, Bela Vista deu lugar a espaço atual

Da Redação

As origens do que hoje é o teatro da rua Rui Barbosa remontam aos anos 50. Inevitavelmente, ao revisitar essa história, há que se buscar a memória de uma de suas fundadoras, a atriz Nydia Licia, 78, mulher de Sérgio Cardoso.

A vontade de fundar uma companhia passava pela necessidade de ter um teatro próprio. Em 1954, descobriram em estado de abandono o Cine Teatro Spéria, todo construído com estruturas pré-fabricadas em aço, vindas da Alemanha. O espaço foi alugado, reformado e transformado no teatro Bela Vista, inaugurado em 1956, com ‘Hamlet’, dirigido e interpretado por Sérgio Cardoso. Nydia Licia fez o papel de rainha.

‘Os donos pediram de volta. Queriam vender, mas eu não tinha condição de comprar’, conta Licia. ‘Para mim foi horrível, porque era a minha casa, mas não dava mais. Tudo tem a sua época.’

Pelo palco do teatro, devolvido aos donos em 1970, passaram nomes como Tônia Carrero, Paulo Autran e Baden Powell. Apesar dos protestos, o Bela Vista foi demolido. ‘Nossa idéia era manter o teatro como estava. O governo decidiu derrubar e construir o Sérgio Cardoso’, conta Licia. ‘Acharam que estava em mau estado. Gente que não é de teatro sempre acha que a coisa é complicada. Nós não, a gente se vira.’

Um novo teatro, construído na área desapropriada, foi inaugurado em 1980. ‘É sempre bom ter um teatro grande, mas para mim o outro era mais importante. É uma coisa muito sentimental’, diz Licia. (JF)