Após laudo da Cetesb, usina de lixo será fechada

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 7 de maio de 2004

sex, 07/05/2004 - 9h00 | Do Portal do Governo

A Usina de Compostagem da Vila Leopoldina vai ser desativada nos próximos 10 meses. A decisão foi tomada depois de comprovadas diversas irregularidades no processamento dos resíduos

ARTHUR GUIMARÃES e DANIEL GONZALES

O secretário estadual do meio ambiente, José Goldemberg, anunciou ontem que a Usina de Compostagem da Vila Leopoldina – a única na Cidade preparada para reciclar o lixo urbano – será desativada dentro de um prazo de 6 a 10 meses. A decisão foi tomada depois que a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) emitiu um laudo técnico pedindo o fechamento imediato da usina, já que o processamento do lixo no local estava causando a proliferação de pragas, produzindo mau cheiro e trazendo inúmeros transtornos aos vizinhos do terreno.

A interdição só não ocorrerá prontamente, segundo o secretário, porque a responsável pela usina, a Prefeitura de São Paulo, não teria tempo suficiente para elaborar uma estratégia de substituição do local de destinação do lixo. ‘Não queremos simplesmente transferir o problema para outras comunidades. Até porque já fiz um acordo com o secretário de Serviços e Obras da Prefeitura, Osvaldo Misso, que se comprometeu a entregar, até a próxima quarta-feira, um plano completo para a desativação’, explicou.

Depois de recolhido pelos caminhões que fazem a coleta seletiva na Cidade, o lixo urbano levado para a sede da Vila Leopoldina passa por um processo em que os dejetos sólidos – como plástico e metais – são separados dos dejetos orgânicos – restos de frutas e verduras. Estes últimos, depois de tratados e triturados, recebem o nome de pré-composto e são vendidos como adubo – por R$ 1,5 a tonelada – para agricultores do cinturão verde da Cidade de São Paulo.

No entanto, um parecer técnico concluído em 2002 e assinado por pesquisadores de diversas entidades públicas de renome – como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – atesta que o pré-composto produzido na sede da Vila Leopoldina está contaminado. ‘Cerca de 20% das amostras retiradas estavam com o teor de chumbo acima do que recomendamos tecnicamente. Como não há uma regulamentação nacional sobre o tema, não podemos afirmar que a quantidade seria incorreta. Mas achamos que o material não é adequado para o uso imediato na agricultura’, explica o pesquisador da Embrapa Fábio Silva.

O agricultor Manoel dos Santos, dono de uma propriedade rural de 36 mil metros quadrados em Arujá, costuma usar o pré-composto da Usina de Vila Leopoldina em sua plantação de hortaliças. ‘Todo dia eu encontro lixo hospitalar, tipo agulhas e seringas, no adubo que uso na lavoura’, acusa.

Segundo ele, mesmo com o tratamento sugerido pela Prefeitura – revirar o material periodicamente para torná-lo limpo -, resta um temor de que as hortaliças estejam contaminadas. ‘Não dá para saber se essa sujeira não sobe para as folhas’, conta o agricultor, que chega a produzir cerca de mil caixas de alface por mês, produto revendido nas feiras livres de São Paulo.

O promotor de Meio Ambiente Geraldo Rangel acompanha o caso e prometeu pedir ao governo estadual a cópia do acordo firmado com a Prefeitura de São Paulo.