Aparelho melhora terapia em UTI

Folha de S.Paulo - Quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

qua, 10/12/2008 - 11h12 | Do Portal do Governo

Folha de S.Paulo

Um tomógrafo inédito no mundo, desenvolvido por pesquisadores da USP e já em operação no Hospital das Clínicas de São Paulo, monitora em tempo real o funcionamento dos pulmões e tem conseguido melhorar o tratamento de pacientes submetidos à respiração artificial nas UTIs (unidades de terapia intensiva).

O objetivo é que a nova tecnologia, a ser lançada oficialmente no próximo dia 18, reduza também a mortalidade desses doentes. De 40% a 60% dos pacientes de UTI necessitam de ventilação artificial, e a estimativa é que 40% deles morram por complicações associadas ao procedimento, como lesões pulmonares causadas por má distribuição de ar.

Segundo o pneumologista Carlos Carvalho, responsável pela UTI respiratória do HC, a inovação do aparelho -chamado de tomografia de impedância elétrica- é possibilitar ao médico acompanhar, em tempo real, as condições do pulmão enquanto ele é submetido à respiração artificial, permitindo um controle adequado do volume, da pressão e do fluxo de ar injetado pelo ventilador.

O aparelho também está sendo usado em punções de veias profundas (para o paciente receber medicação), procedimento que pode “furar” a pleura, explica o médico. “Muda completamente a forma de tratar o paciente”, diz ele.

A tomografia computadorizada (raio X), por exemplo, fornece uma imagem anatômica do pulmão (como se fosse uma foto), mas não revela como está funcionando o órgão, segundo o professor Marcelo Britto Passos Amato, responsável pelo Laboratório de Pneumologia Experimental da Faculdade de Medicina da USP e um dos idealizadores do aparelho.

“Fazemos as manobras no ventilador [para corrigir uma baixa oxigenação, por exemplo] totalmente às cegas. Lidamos com o pulmão como uma caixa preta, não sabemos o que acontece dentro dele. Pode ser que o pulmão esteja fechado, pode ser que você esteja aplicando pressão demais ou de menos. E cada uma dessas situações requer uma decisão diferente.”

Emergência

O trauma de tórax que levou à morte a princesa Diana em 1997, em acidente de carro em Paris, é uma outra situação em que novo aparelho poderia ter ajudado, se existisse naquela época. Em razão do trauma, Diana desenvolveu pneumotórax (concentração de ar) de um lado do pulmão e hemotórax (sangramento) do outro.

“Na emergência, o cirurgião torácico percebeu que ela estava em choque e tinha que escolher um lado do pulmão para começar a cirurgia [normalmente, não se abre os dois lados simultaneamente]. Ele escolheu o lado errado. Escolheu o lado do pneumotórax em vez de estancar primeiro o sangramento. Mas ele não teve escolha porque não sabia que havia um sangramento do outro lado”, afirma o médico.

Segundo Amato, o equipamento já detectou, por exemplo, problemas que podem ocorrer durante um transplante de pulmão. “Em casos de transplante de um único pulmão, vimos que o órgão remanescente atrapalha o processo de ventilação alveolar, diminuindo a eficiência ventilatória e de trocas gasosas. É possível que seja mais eficaz a remoção total dos pulmões doentes, em vez de deixar um dos pulmões dentro do tórax.”

O médico diz que, nos próximos dois anos, serão realizados estudos clínicos para avaliar o impacto das taxas de mortalidade dentro da UTI com o uso do aparelho. “Em porcos, constatamos uma redução significativa [de mortes].”

Hoje, dois tomógrafos estão em UTIs do HC e um terceiro, no InCor (Instituto do Coração). Um software está sendo desenvolvido para permitir um monitoramento da passagem do sangue no pulmão.