Aparelho biopsia tumor sem abrir tórax

Folha de S. Paulo

ter, 23/06/2009 - 7h59 | Do Portal do Governo

Endoscópio com ultrassom e agulha é usado em diagnóstico e evolução do câncer de pulmão e pode substituir atuais cirurgias

Novo equipamento fornece imagens em tempo real; procedimento pode ser feito no ambulatório e o paciente tem alta no mesmo dia

Uma nova tecnologia recém-aprovada no Brasil permite fazer biopsias na região do pulmão sem abrir o tórax. O procedimento pode substituir as cirurgias exploratórias, feitas para confirmar a suspeita de um tumor de pulmão -levantada em exames radiológicos- ou para acompanhar a evolução do câncer (estadiamento).

Estima-se que surjam por ano no Brasil cerca de 20 mil novos casos de câncer de pulmão -7.000 deles apenas em São Paulo. Em todos os casos, essas biopsias são necessárias.

O aparelho, chamado Ebus (do inglês Endobronquial Ultrasound), é um tipo de endoscópio respiratório que tem um ultrassom e uma agulha acoplados. Entra pela boca e, na traqueia, transmite a imagem da região do pulmão para um monitor. Quando localizado o tecido suspeito, a agulha atravessa a traqueia e faz uma punção do material. Nenhuma incisão é necessária. O exame pode ser feito com sedação, e o paciente tem alta no mesmo dia.

O exame é considerado pelos médicos mais seguro porque evita as complicações de uma cirurgia convencional. “A cirurgia aberta é mais agressiva, requer maior tempo de internação e de recuperação”, explica Miguel Tedde, cirurgião torácico do InCor (Instituto do Coração), que começou a testar o aparelho na semana passada.

Segundo ele, o equipamento também pode substituir a mediastinoscopia ou videotoracoscopia, outros procedimentos cirúrgicos comumente empregados no estadiamento de casos de câncer de pulmão.

Para Jefferson Gross, diretor do departamento de tórax do Hospital A.C.Camargo, o aparelho tem a vantagem de fornecer imagens das vias aéreas, do pulmão e dos linfonodos (gânglios linfáticos) em tempo real, o que aumenta a precisão.

Nos métodos tradicionais, o cirurgião faz uma abertura no tórax e, na hora de procurar esses gânglios, guia-se por imagens de exames feitos previamente. “[O método tradicional] não é tão preciso. Há o risco de não acessar o linfonodo ou de pegar uma veia e provocar um sangramento, por exemplo. A precisão do novo equipamento é muito maior”, explica Gross.

A ressalva é que, se o resultado for negativo, será preciso recorrer às cirurgias convencionais para confirmá-lo. “Quando o exame não dá positivo, o resultado vem como processo inflamatório. Mas nunca se sabe se é mesmo um processo inflamatório ou se a agulha não pegou o lugar ideal [onde está o tumor]”, explica Tedde.

Se o exame der positivo, o que ocorre na maioria dos casos, o resultado é válido. “Com ele, pouparemos muitas cirurgias”, diz Gross.

Custo

Alguns trabalhos recentes, como uma análise publicada na revista científica “Lung Cancer”, também sugerem que a relação custo e efetividade do novo equipamento compensa o investimento. Nos EUA, o aparelho custa em média US$ 150 mil. No Brasil, o preço ainda não foi definido.

“Mas, intuitivamente, parece-nos que um método diagnóstico, feito por punção e de forma ambulatorial, deva ser mais barato do que um método operatório que requer internação”, avalia Tedde.

A pneumologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Iunis Suzuki, que acaba de concluir um treinamento nos EUA com o aparelho, diz que ele já faz parte da rotina dos centros médicos americanos. “É um instrumento muito importante, que já virou prática obrigatória no estadiamento de neoplasia pulmonar. É capaz de visualizar e acessar áreas que até então só eram possíveis por cirurgia”, diz ela.