Alunos pobres vão bem na Unicamp

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 21 de junho de 2006

qua, 21/06/2006 - 11h13 | Do Portal do Governo

Apesar de ganharem bônus para passar no vestibular, durante os cursos eles têm notas mais altas que os demais

Renata Cafardo

Estudantes que vieram de escolas públicas e ganharam bônus para passar no vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) se saíram melhor no curso que os demais. A instituição finalizou um estudo sobre o primeiro ano completo de seu programa de inclusão e concluiu que em 31 dos 56 cursos as notas dos alunos carentes são as melhores.

“Isso mostra que esses estudantes, ao contrário do que muita gente pensa, não fazem cair o nível da universidade”, diz o coordenador do vestibular da Unicamp e um dos autores do estudo, Leandro Tessler. Os números se referem ao desempenho de 908 alunos que ingressaram na Unicamp no início de 2005 por meio do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais).

A universidade, desde então, concede 30 pontos a mais na segunda fase do vestibular aos estudantes de escolas públicas e outros 10 para quem for negro ou índio. Os pontos representam, no mínimo, 8% a mais na nota. A Universidade de São Paulo (USP) anunciou no mês passado um sistema semelhante, mas que dará 3% a mais para alunos de escolas públicas.

Segundo o estudo da Unicamp, esses alunos não só tiveram desempenho acadêmico superior aos demais, como, se comparadas as notas do vestibular e do curso, eles evoluíram mais que seus colegas. Isso acontece, segundo Tessler, em 53 dos 56 cursos da Unicamp. “Acreditamos que eles sejam talentos reprimidos e, quando entram numa estrutura como a da universidade, com laboratórios e bons professores, evoluem rapidamente”, diz Tessler. Ele acredita ainda que os resultados acabam com a idéia de que o vestibular mostra tudo sobre um candidato.

Os números indicam que no curso de Física, por exemplo, os alunos do Paais tiveram nota no vestibular de 500,8 e os demais, de 524,8. Depois, durante o curso, os primeiros ficaram com média 5,4 enquanto os outros, com 4,5. Os valores absolutos são diferentes, mas mostram a inversão de quem são os melhores e quem são os piores.

Em Medicina, cujo curso é um dos melhores do País, ocorre o mesmo: estudantes de escolas públicas têm média 7,9 e o restante, 7,6. “Acho que temos mais responsabilidade com o curso, porque sabemos que precisamos terminar o mais rápido possível para começar a trabalhar. Temos que passar em todas as disciplinas”, diz Daniel Pereira da Silva, de 19 anos, que ganhou os pontos a mais para ingressar na Unicamp e agora cursa Ciências Econômicas. Ele e os colegas que participaram do programa de inclusão tiveram média 6,5. Os outros, 6,4.

“Estamos mais acostumados a nos matar de estudar. Tivemos que estudar muito para entrar na Unicamp, mesmo com os pontos”, diz outra beneficiada pelo programa, Luciana da Silva, de 21 anos, que estuda História. Hoje, ela atua também como monitora em escolas públicas que queiram saber mais sobre Paais.

O estudo mostra ainda que o impacto do aumento do número de estudantes vindos de escolas públicas foi maior nos cursos mais concorridos. Medicina, Arquitetura, Engenharia de Computação, por exemplo, tiveram 79% mais alunos carentes depois do Paais. Em média, o aumento foi de 22%.

Os resultados foram melhores que os esperados, segundo Tessler. No entanto, a Unicamp executou o projeto porque já havia constatado, por meio de simulações, que esses alunos se sairiam bem caso recebessem ajuda no vestibular.