Alimento calórico é como droga

Jornal da Tarde

ter, 30/03/2010 - 8h23 | Do Portal do Governo

Pesquisa aponta que pessoas compulsivas podem ser tratadas como viciados químicos

Se fartar de alimentos com alto valor calórico pode ser tão viciante quanto a cocaína ou a nicotina. Pode ainda provocar uma compulsão por ingestão desse tipo de comida, além de causar obesidade.

A conclusão é de uma pesquisa, publicação científica na revista Nature Neuroscience. O estudo, feito em ratos, pode ajudar a compreender a obesidade achar alternativas de terapias para seu tratamento. A pesquisa mostrou que o consumo de alimentos super calóricos pode desencadear no cérebro respostas similares a de um viciado e converter os animais estudados em compulsivos por comida.

Em ratos com sobrepeso, foi identificada queda nos níveis de dopamina (substância química que promove uma sensação de prazer), a mesma que se encontra em viciados em drogas. “(Alimento calórico) estimula também a produção de serotonina e o cérebro vai pedir mais alimentos desse tipo. E funciona (compulsão) exatamente no mesmo esquema de uma substância psicoativa”, explica a diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratrod), Luizemir Lago. “Mas, a psicoativa gera transtornos de comportamento e, o alimentar, dará obesidade e problemas no aparelho locomotor.”

Segundo Paul Kenny, autor do estudo feito no Instituto de Investigação The Scripps, na Flórida, a obesidade pode gerar uma compulsão por alimentos. “Tratamentos aplicados em outras formas de compulsão, como o vício em drogas, podem ser eficazes no tratamento da obesidade”, diz. Para fazer a pesquisa, Kenny comprou alimentos com alto valor calórico, como torta de queijo. A equipe também comprou comidas saudáveis e fez uma dieta para três grupos de ratos.

Um deles se alimentava com uma dieta balanceada. Outro recebia comida saudável, mas tinha acesso durante uma hora por dia a alimentos com alto valor calórico. Os do terceiro grupo davam preferência por alimentos calóricos e se alimentavam disso o dia todo. Logo, tornaram-se obesos.

Segundo a diretora do Cratod, um dos sinais de que a pessoa pode ser compulsiva por alimentos é o desenvolvimento de uma conduta pela ingestão de alimentos calóricos. “A pessoa prefere o chocolate a uma proteína ou uma fruta”, diz. Luizemir explica que a falta desse tipo de comida pode gerar uma hipoglicemia, por exemplo. “(Alimento calórico) mexe com a dinâmica do organismo. Não haverá abstinência, como acontece com quem usa substâncias psicoativas, mas terá insulina em excesso, o colesterol sobe e ela carregará um peso acima do que seu corpo pode suportar.”

Para evitar ser dependente de alimentos calóricos, a recomendação é ter hábitos alimentares saudáveis desde a infância. “Esse é um problema sério que as pessoas muitas vezes não percebem. Muitas vezes, só procuram ajuda quando estão obesos”, diz.

Centro oferece tratamento aos compulsivos 

Tratamentos oferecidos no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), no Bom Retiro, na região central, não são restritos a substâncias psicoativas. Lá, também há um núcleo de obesidade para tratar tanto a doença quanto a compulsão por comida.

Por entender que o comportamento do cérebro de um compulsivo por alimentos é muito similar ao de um viciado em substâncias psicoativas, o órgão incorporou o tratamento a compulsivos.

Segundo a diretora da unidade, Luizemir Lago, os tratamentos são parecidos. Este é feito com uma equipe multidisciplinar que busca identificar os mecanismos que levam o paciente a ser um compulsivo por comida. Descoberta a razão do problema, são desenvolvidas estratégias para neutralizar esse comportamento. “O ideal é que a pessoa, ao sentir vontade de comer, substitua o alimento por outro tipo de atividade. Com esse trabalho, os pacientes já perderam peso e mudaram seus hábitos.”